Segundo Governo Vargas
O Segundo Governo Vargas é como chamamos o período em que Getúlio Vargas foi presidente do Brasil pela segunda vez. Ele governou de 1951 até 1954, quando se suicidou em agosto.
Entre os principais feitos desses três anos de governo destaca-se a criação da Petrobras, empresa que passou a controlar todo o petróleo brasileiro. Vargas também dobrou o valor do salário mínimo em 1954, aumentando-o em 100%.
Porém, seu governo teve muitos problemas políticos. A oposição (ligada ao partido político UDN) o atacava constantemente. O momento mais grave foi o Atentado da Rua Tonelero, que criou uma crise política que levou Vargas ao suicídio.
Esse período é chamado de "segundo governo" pois Getúlio já havia governado o Brasil antes, entre 1930 e 1945.
A eleição de Vargas em 1950
Getúlio Vargas voltou ao poder através de eleições democráticas em 1950. Ele concorreu pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e venceu Eduardo Gomes, da UDN (União Democrática Nacional), com 48% dos votos.
O Brasil estava passando por dificuldades econômicas nessa época. O presidente anterior, Eurico Gaspar Dutra, deixou o governo muito criticado. A inflação estava alta e o povo passava dificuldades.
Vargas aproveitou essa situação para fazer promessas atrativas. Ele defendeu o nacionalismo econômico - ou seja, a ideia de que o Brasil deveria controlar suas próprias riquezas e indústrias. Também prometeu defender o poder de compra dos trabalhadores, melhorando seus salários.
Os trabalhadores confiavam em Vargas porque ele já havia criado leis trabalhistas importantes em seu primeiro governo, como a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
A oposição, liderada pela UDN, tentou usar o passado ditatorial de Vargas contra ele. Eles lembravam que ele havia sido ditador durante o Estado Novo (1937-1945). Mas essa estratégia não funcionou, e Vargas ganhou com boa margem de votos.
Características do Segundo Governo Vargas
Na economia, Vargas seguiu uma política chamada nacionalismo econômico. Na prática, o governo brasileiro buscava acelerar a industrialização protegendo as empresas brasileiras. Além disso, Vargas também aumentou a participação do Estado na economia, com investimentos e empresas estatais.
Para colocar essas ideias em prática, Vargas criou importantes instituições:
- CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas): órgão para desenvolver pesquisas científicas;
- BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento): banco público para financiar o desenvolvimento do país;
- Petrobras (Petróleo Brasileiro SA): empresa estatal que passou a controlar todo o petróleo brasileiro.
Apesar desses feitos, o governo enfrentou sérios problemas econômicos. A inflação continuou alta, herança do governo anterior. Isso significa que os preços subiam constantemente, prejudicando o poder de compra da população.
Assim, mesmo sendo apoiado pelos sindicatos, Vargas enfrentou greves e protestos de trabalhadores insatisfeitos com a situação econômica.
No campo político, o Segundo Governo Vargas foi marcado por forte instabilidade política. A oposição atacava Vargas no Congresso Nacional e na imprensa. Eles tentavam associá-lo à imagem de ditador e questionavam suas ações. Para agravar o quadro, jornais publicavam escândalos políticos e espalhavam suspeitas de corrupção contra Vargas e seus aliados.
Essa pressão constante contribuiu para o clima de crise que marcou todo o período.
Criação da Petrobras
A criação da Petrobras, em 1953, foi uma das principais marcas do Segundo Governo Vargas.
A empresa foi estabelecida como monopólio estatal, ou seja, somente ela poderia extrair, refinar e comercializar petróleo no território brasileiro.
Antes da Petrobras, o petróleo brasileiro era explorado por empresas estrangeiras. Vargas defendia que o petróleo era uma riqueza nacional e deveria pertencer ao povo brasileiro. Por isso, criou a empresa estatal para garantir que os lucros ficassem no país.
A decisão gerou forte oposição. Grupos ligados ao capital estrangeiro e setores da UDN criticaram a medida. Eles argumentavam que o Brasil não tinha recursos técnicos suficientes para explorar o petróleo sozinho.
Apesar das críticas, a criação da Petrobras foi muito popular entre os trabalhadores, estudantes e nacionalistas. O slogan "O petróleo é nosso" se tornou um símbolo da política econômica de Vargas e mobilizou a população em apoio à Petrobras.
Assim, em 1953, o governo aprovou a Lei número 2.004, que determinou a criação da Petrobras, com monopólio de todas as etapas da produção, exceto a distribuição.
Elevação do salário mínimo
Em maio de 1954, Vargas anunciou um aumento de 100% no salário mínimo.
Proposta pelo então Ministro do Trabalho, João Goulart (PTB), ela foi uma tentativa de recuperar o poder de compra dos trabalhadores, que havia sido prejudicado pela alta inflação.
O aumento foi recebido com entusiasmo pelos trabalhadores e sindicatos. Para eles, Vargas cumpria uma antiga promessa de campanha e demonstrava seu compromisso com a classe trabalhadora.
No entanto, a decisão provocou forte reação da oposição e do empresariado. Eles argumentavam que o aumento seria prejudicial à economia e aumentaria ainda mais a inflação. Os militares também se mostraram contrários à medida.
A elevação do salário mínimo intensificou a polarização política no país. Enquanto os trabalhadores apoiavam Vargas, a oposição aumentou a pressão para sua renúncia.
A crise do Segundo Governo Vargas
O Segundo Governo Vargas enfrentou uma crise política crescente que culminou com o suicídio do presidente em agosto de 1954. Entre os principais fatores da crise destaca-se o Atentado da Rua Tonelero.
Em agosto de 1954, ocorreu um atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, forte opositor de Vargas. O ataque aconteceu na Rua Tonelero, em Copacabana. Lacerda sobreviveu, mas o major da Aeronáutica Rubens Vaz morreu no atentado.
A morte de um militar fez com que as Forças Armadas tomassem parte das investigações. Assim, formaram a chamada “República do Galeão”, um órgão investigativo formado por militares que buscava esclarecer os participantes do crime.
As investigações revelaram que o responsável pelo crime era Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas. A descoberta provocou uma grave crise política, pois ligava diretamente a presidência ao atentado.
A oposição e os militares intensificaram a exigência pela renúncia de Vargas. A imprensa também aumentou os ataques ao governo. Cada vez mais isolado politicamente, Vargas se suicidou no dia 24 de agosto de 1954, deixando uma carta-testamento que responsabilizava seus inimigos pela crise.
O suicídio marcou o fim de uma era na política brasileira. Vargas havia sido a principal figura política do país por mais de 20 anos. Sua morte encerrou definitivamente o período conhecido como Era Vargas e abriu caminho para novos líderes políticos no Brasil.
A transição de poder
A morte de Getúlio Vargas causou grande comoção nacional e mudou completamente o cenário político brasileiro. O povo saiu às ruas para prestar homenagens a Vargas e protestar contra seus opositores.
Com o suicídio, o vice-presidente Café Filho assumiu a presidência, mas o país viveu forte instabilidade. Em 1955, ele se afastou por problemas de saúde e o presidente da Câmara, Carlos Luz, ligado à UDN, ocupou o cargo.
Temendo um golpe para impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek, os militares intervieram sob a liderança do general Lott, garantindo a transição.
Veja também:
Era Vargas: o que foi e todas as fases do governo
Getúlio Vargas: quem foi, seu governo e morte (em resumo)
Questões sobre a Era Vargas (com respostas comentadas)
Referências Bibliográficas
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.
FREITAS NETO, José Alves de e TASINAFO, Célio Ricardo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2006.
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Maria Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
PEREIRA, Lucas. Segundo Governo Vargas. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/segundo-governo-vargas/. Acesso em: