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Sambaquis: o que são e sua importância histórica

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Professor de História

Sambaquis são sítios arqueológicos pré-coloniais, formados pelo acúmulo de sedimentos diversos, especialmente conchas de moluscos, restos de peixes e outros materiais orgânicos e minerais.

Situados ao longo do litoral brasileiro, os sambaquis são alguns dos sítios arqueológicos mais antigos do Brasil, datado de até 8 mil anos atrás. O termo sambaqui tem origem na língua tupi-guarani, onde tamba significa "concha" e ki significa "amontoado".

Foto do Sambaqui Figueirinha II.
Foto do Sambaqui Figueirinha II (Fonte: Wikicommons)

Os maiores sambaquis chegam a atingir 30 metros de altura, o que sugere uma longa permanência dessas populações no entorno desses locais. Além das regiões próximas do Oceano Atlântico, também é possível encontrar sambaquis em outros corpos d'água, como lagoas e rios.

Construídos principalmente com conchas, restos de peixes, carvão e sedimentos, esses sítios arqueológicos revelam práticas culturais das populações que os ergueram. Foram construídos por povos que habitaram o litoral entre 8 mil e 2 mil anos atrás, com maior concentração no Sul e no Sudeste do Brasil.

Embora tenham sido utilizados para múltiplas funções, sua principal finalidade não era a moradia, mas sim a demarcação territorial, funcionando como marcos na paisagem e possivelmente indicando áreas de ocupação exclusiva de determinados grupos.

Além disso, os sambaquis desempenhavam um papel central nos ritos funerários, servindo como cemitérios onde foram encontrados sepultamentos individuais e coletivos.

Foto aérea do sambaqui Garopaba do Sul.
Foto aérea do sambaqui Garopaba do Sul, em Santa Catarina. Foto: Alexandre Demathé (Autor: SapienzaArqueologia)
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sambaqui_Garopaba_do_Sul.jpg - Licenciado sob CC BY-SA 4.0

Quem eram os sambaquieiros

Os povos construtores dos sambaquis são chamados de sambaquieiros. Eles viviam em sociedades organizadas, que habitavam áreas alagadiças, frequentemente sujeitas às variações do nível do mar.

A subsistência desses grupos era baseada na pesca, caça e coleta. Dominavam técnicas de produção de embarcações, utilizando instrumentos para captura de peixes, tubarões e arraias. Além disso, coletavam moluscos e crustáceos, caçavam animais terrestres, como porcos-do-mato e capivaras, e consumiam frutos típicos da restinga e da Mata Atlântica.

Pesquisadores encontraram lesões nos ossos do tímpano e dos ombos dos sambaquieiros, típicas de quem pratica remo e possui prolongado contato com águas frias. Por essa razão, são considerados representantes de culturas marítimas, sendo descritos como povos que viviam "com os pés na água".

Os sambaquieiros confeccionavam ferramentas em locais próximos a rochas litorâneas, chamadas de oficinas líticas. Nesses locais, fabricavam anzóis, pontas de projéteis, estacas, embarcações, cabos, cestos, esteiras e amarrações, entre outros objetos.

Os significados dos sambaquis

A grande quantidade de esqueletos encontrados no interior dos sambaquis levou os pesquisadores a interpretá-los como estruturas funerárias. Por exemplo, o sambaqui Jabuticabeira II, localizado em Santa Catarina, é um dos maiores já escavados e revelou milhares de sepultamentos.

Os estudos identificaram diferentes formas de sepultamento. Também foi encontrado diferentes objetos que acompanhavam os corpos, demonstrando a existência de uma cultura funerária.

Além do seu significado para a morte e enterro de falecidos, os sambaquis também apresentam uma importância ritualística. Afinal, foram encontradas esculturas, principalmente em pedra e osso, representando tanto animais marinhos quanto figuras humanas.

Pequena escultura em formato de peixe (zoólito) encontrado num sambaqui.
Zoólito (espécie de escultura) em formato de peixe encontrado num sambaqui. (Fonte/Fotógrafo: Usuário:Dornicke , publicado em 2015-01-10.) - Licenciado sob CC BY-SA 4.0

Outro ponto de discussão entre os pesquisadores dos sambaquis são as gravuras rupestres encontradas nos sambaquis. Essas inscrições formam imensos painéis, que, em alguns casos, podem ser avistados do mar. Os padrões geométricos e figuras representadas indicam uma atividade cultural ainda pouco compreendida.

Além disso, devido à impossibilidade técnica de realizar datações diretas na pedra, é difícil determinar com precisão quais grupos produziram tais pinturas e em que período exato foram feitas.

O desaparecimento dos Sambaquis

Por volta do ano 1000 d.C., a construção de sambaquis foi gradualmente interrompida, e os sambaquieiros deixaram de existir como cultura distinta.

A principal hipótese arqueológica para esse fenômeno é a chegada de outros grupos populacionais às regiões antes ocupadas pelos sambaquieiros, como os povos associados às tradições Tupi-guarani. Essa transição não parece ter ocorrido por meio de conflitos violentos, pois os esqueletos encontrados nos sambaquis não apresentam sinais de mortes violentas em grande número.

Isso sugere que o desaparecimento dos sambaquieiros se deu por um processo gradual de aculturação e mudanças nos hábitos de vida. Tal mudança possivelmente foi influenciada por novas formas de organização social e econômica trazidas por esses grupos recém-chegados.

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Referências Bibliográficas

ARRUDA, José Jobson de A. e PILETTI, Nelson. Toda a História. São Paulo: Ática, 2007.

CARDOSO, Jéssica. SILVA, Renata da. ZAMPARETTI, Bruna. Sambaquis: uma história antes do Brasil – guia didático. São Paulo: MAE-USP, 2019.

DEBLASIS, Paulo; SCATAMACCHIA, Maria Cristina. Arqueologia e patrimônio: Sambaquis e Povos Tradicionais. Sociologias, Porto Alegre, v. 18, n. 42, p. 312-347, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sn/a/FgBHQYL5CBLRqjpqs4LkHVf/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: [19/03/2025].

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.