Revoltas Regenciais
As Revoltas Regenciais foram uma série de guerras e conflitos ocorridos no Brasil durante o Período Regencial (1831-1840).
Trata-se de um período iniciado com a renúncia do imperador Dom Pedro I em favor de seu filho, Pedro II, que tinha apenas quatro anos de idade em 1831. Dessa forma, o Brasil passou a ser governado por políticos regentes até a maioridade do imperador.
Nesses anos de Regência, o país passava por uma forte instabilidade política e contestação do poder central, levando ao início de revoltas locais que tinham diferentes objetivos e motivações.
Abaixo, veremos cada uma das principais Revoltas Regenciais e suas principais características:
- Revolta dos Malês (1835)
- Cabanagem (1835-1840)
- Guerra dos Farrapos (1835-1845)
- Sabinada (1837-1838)
- Balaiada (1838-1841)
Revolta dos Malês (1835)
A Revolta dos Malês foi uma revolta organizada por escravos e ex-escravos de religião muçulmana em Salvador, na Bahia.
Na época, Salvador era uma das principais cidades escravistas do Brasil. Muitos dos escravos africanos que lá viviam praticavam a religião muçulmana, trazidos sobretudo da região da África Ocidental.

Esses escravos muçulmanos - chamados de imalês na língua iorubá - dominavam a escrita e a fala árabe, o que permitiu que conspirassem contra as autoridades sem serem descobertos.
Os revoltosos organizavam uma grande revolta para o dia 25 de janeiro de 1835, data que marcava o fim do Ramadã, período sagrado dos muçulmanos. Seus principais objetivos eram:
- libertar companheiros presos;
- combater a escravidão africana;
- contestar a imposição religiosa no período;
- tomar o controle da cidade.
No entanto, o movimento foi delatado às autoridades. Ainda assim, liderados pelo escravizado Manuel Calafate, os revoltosos resistiram à autoridade policial, causando confrontos e provocando o pânico entre os senhores de escravos de Salvador.
No final, a Revolta dos Malês foi vencida, deixando cerca de setenta rebeldes mortos no conflito. Outros presos foram condenados ao açoitamento, à morte ou deportados para a África.
Apesar de vencida, a Revolta serviu para acentuar o receio dos senhores de escravos com uma possível "haitianização" do Brasil. Isto é, de que o Brasil assistisse a uma revolta de escravos bem sucedida, assim como aconteceu no Haiti.
Cabanagem (1835-1840)
A Cabanagem foi uma das maiores revoltas ocorridas no Brasil. Ela ocorreu na região amazônica, na então chamada província do Grão-Pará.
As causas da revolta estão ligadas à profunda desigualdade social da região. As autoridades locais viviam reprimindo a população ribeirinha mais pobre, composta por escravos alforriados, indígenas e mestiços. Essas populações eram popularmente chamadas de "cabanos" por causa das moradias simples em que viviam.
A indicação de Bernardo Lobo de Sousa para o cargo de Presidente da Província (espécie de governador) só piorou a situação. O representante da regência acentuou o uso da violência contra os cabanos, o que agravou ainda mais o conflito.
Em reação, os cabanos e parte das elites locais iniciaram um levante contra o governo regencial. Os cabanos tinham objetivos variados:
- sentimento antilusitano;
- defesa dos interesses locais contra o centralismo regencial;
- luta contra a miséria da população.
Inicialmente, liderados por Félix Clemente Malcher e pelos irmãos António e Francisco Vinagre, o movimento teve sucesso e chegou a tomar o controle do governo local por cerca de dez meses.
Contudo, o caráter popular do movimento afastou as lideranças de elite. O governo central reagiu, enviando tropas e dando início a uma longa e sangrenta guerra na região, que reprimiu a população até 1840.
Em seu desfecho, o movimento popular foi derrotado, deixando cerca de trinta mil mortos entre os cabanos.
Guerra dos Farrapos (1835-1845)
A Guerra dos Farrapos (ou Revolução Farroupilha) foi a mais longa das revoltas regenciais. Ela ocorreu no Rio Grande do Sul e teve um caráter elitista e separatista.
A principal causa da revolta estava ligada à questão econômica. Os estancieiros gaúchos eram prejudicados pelos altos impostos cobrados sobre o charque (carne seca) produzido na região. Enquanto isso, o charque platino (do Uruguai e Argentina) entrava no Brasil com impostos menores.
Os revoltosos, liderados por figuras como Bento Gonçalves, declararam a independência da região e criaram a República Rio-Grandense. O movimento tinha forte apoio das elites locais, que buscavam maior autonomia política e econômica.
A guerra se estendeu por dez anos, causando grandes prejuízos ao governo imperial. Para encerrar o conflito, o governo central fez importantes concessões aos revoltosos, como a anistia geral e a nomeação de líderes farroupilhas para cargos importantes na província e no exército regular.

Sabinada (1837-1838)
A Sabinada foi uma revolta ocorrida em Salvador, na Bahia. O movimento foi protagonizado pelas classes médias urbanas e teve como líder o médico Francisco Sabino Barroso.
A revolta surgiu como uma reação ao avanço do partido conservador durante a Regência. Os revoltosos rejeitavam o centralismo político e defendiam ideias republicanas e federalistas.
O objetivo dos sabinos envolvia criar a República Bahiense, que seria independente apenas até a maioridade de Pedro II. Ou seja, quando o imperador assumisse o trono aos 18 anos, a Bahia voltaria a fazer parte do Brasil.

O movimento durou cerca de quatro meses e foi reprimido pelas tropas imperiais. A revolta deixou milhares de mortos e feridos, além de grandes destruições na cidade de Salvador.
Balaiada (1838-1841)
A Balaiada foi uma revolta que eclodiu no Maranhão. O movimento recebeu esse nome por causa de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, conhecido como "Balaio", um de seus principais líderes.
As causas da revolta estavam ligadas às disputas políticas locais entre liberais (chamados de "bem-te-vis") e conservadores (conhecidos como "cabanos"). Essa rivalidade se intensificou com a criação da Lei dos Prefeitos, que dava ao governo central o poder de nomear autoridades locais.
Assim como a Cabanagem, a Balaiada também teve um caráter mais popular. O movimento contou com a participação de vaqueiros, escravos fugidos e pessoas livres pobres. Entre os líderes, destacaram-se também Raimundo Gomes e o quilombola Cosme Bento.
A revolta foi reprimida violentamente pelo futuro Duque de Caxias, que liderou as tropas enviadas pela regência. O conflito deixou milhares de mortos e consolidou o controle imperial sobre a região.
Mapa mental sobre as Revoltas Regenciais

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Referências Bibliográficas
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.
FREITAS NETO, José Alves de e TASINAFO, Célio Ricardo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2006.
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Maria Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
PEREIRA, Lucas. Revoltas Regenciais. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/revoltas-regenciais/. Acesso em: