Poesia Social
A poesia social é um tipo de produção literária que aborda questões de valor político e social.
Na história da literatura brasileira, alguns momentos foram essenciais para a propagação da poesia social, por exemplo, no Romantismo, na Geração Mimeógrafo, e nalguns movimentos modernos e contemporâneos.
No século XIX, o movimento literário romântico apresenta as primeiras manifestações da poesia social, expressas nas obras de autores como: Fagundes Varela, Castro Alves e Sousândrade.
Vale lembrar que um dos importantes momentos de consagração da poesia social no Brasil surgiu com a poesia-práxis, em contraposição ao radicalismo e preocupação formal do movimento concretista (poema-objeto).
Os principais escritores que se destacaram no movimento da poesia práxis foram: Mario Chamie e Cassiano Ricardo.
Outra corrente artística que surge em oposição ao Concretismo, foi o Neoconcretismo ou Movimento Concretista, o qual propunha uma arte mais voltada para os problemas políticos e sociais do país. O maior representante da poesia social nesse momento, foi o poeta Ferreira Gullar.
Já na Geração Mimeógrafo, chamada de Poesia Marginal, a preocupação com a poesia social esteve marcada pelos trabalhos de artistas como: Chacal, Cacaso, Paulo Leminski e Torquato Neto.
No Modernismo, diversos escritores criaram suas obras baseadas na realidade social do país, dos quais merecem destaque: Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Vinícius de Moraes, dentre outros.
Principais Caraterísticas
As características mais importantes da poesia social são:
- Linguagem simples, cotidiana
- Realidade e denúncia social
- Poesia crítica e engajada
Exemplos
Segue abaixo dois exemplos de poesia social:
Poesia Social de Castro Alves
Trecho da obra “Vozes d’África” (1868)
“Vi a ciência desertar do Egito...
Vi meu povo seguir — Judeu maldito —
Trilho de perdição.
Depois vi minha prole desgraçada
Pelas garras d'Europa — arrebatada —
Amestrado falcão! ...
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos — alimária do universo,
Eu — pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...
Poesia Social de Ferreira Gullar
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
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DIANA, Daniela. Poesia Social. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/poesia-social/. Acesso em: