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Pensadores Indígenas Contemporâneos

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Professor de História

Nos últimos anos, autores e pensadores indígenas têm ganhado destaque no Brasil e no mundo. Suas contribuições provocaram forte impacto nas universidades e também para a cultura em geral.

O crescimento do interesse nesses autores é reflexo de uma maior valorização da diversidade cultural brasileira.

Igualmente, tal interesse resulta de um esforço das universidades na construção de um conhecimento decolonial, isto é, um esforço institucional de questionamento dos efeitos da colonialidade e do eurocentrismo no pensamento acadêmico.

Outro ponto importante sobre os pensadores e os autores indígenas está na variedade de assuntos e campos do saber que tais autores abordam. Em especial, são autores relevantes para a sociologia, para a ecologia, para a literatura, para a filosofia e também para a psicologia.

É importante lembrar que os povos indígenas brasileiros apresentam uma grande diversidade cultural, histórica e linguística entre si. Embora os autores aqui citados pertençam ao que chamamos de "povos indígenas", é importante lembrar que individualmente eles vêm de contextos e regiões diferentes.

Neste conteúdo você vai conhecer:

Airton Krenak (Etnia Krenak)

Líder indígena, escritor e filósofo, Airton Krenak é um dos pensadores indígenas mais conhecidos e aclamados no Brasil.

Sua atuação pública recebeu grande atenção ainda na década de 1980, devido à sua participação no movimento indígena e na luta em defesa dos povos originários.

Retrato do autor Airton Krenak sentado em uma cadeira.
Airton Krenak

Em sua trajetória de ativismo, seu discurso na tribuna da Assembleia Nacional Constituinte de 1988 é frequentemente lembrado. Na ocasião, Krenak pintou seu rosto com jenipapo enquanto denunciava medidas que eram consideradas restritivas aos direitos dos povos indígenas, gerando ampla repercussão.

Em seus escritos, Airton Krenak é principalmente conhecido por trabalhos como Ideias Para Adiar o Fim do Mundo e A Vida Não é Útil. Em ambos os textos o autor dedica-se a refletir sobre a vida contemporânea e os impactos no ecossistema e na subjetividade humana.

Por exemplo, em "A Vida não É Útil", Airton Krenak tece uma crítica profunda à lógica capitalista e ao seu ritmo de vida acelerado.

Entre outros pontos, identifica como o homem moderno criou uma ideia problemática de separação da humanidade e do mundo natural.

Para o autor, essa crença leva à humanidade a agir “impunemente” sobre a natureza, distraídos por uma crença que tudo o que for destruído pode ser restaurado.

Tal visão de mundo resultava num estilo de vida, pautado na autocobrança, no consumo e na destruição da natureza acarretaria invariavelmente ao colapso ambiental e ao adoecimento.

Além disso, o autor trata da importância dos sonhos, da superação das noções equivocadas de sustentabilidade, chama a atenção para os preconceitos contra os povos originários.

Em 2023, Airton Krenak foi nomeado para a Academia Brasileira de Letras, sendo o primeiro autor indígena a conquistar a honraria.

Davi Kopenawa (etnia Yanomami)

Davi Kopenawa é líder Yanomami, xamã e escritor. Tornou-se uma das vozes mais importantes na defesa da Amazônia e dos direitos dos povos indígenas.

O autor e xamã Davi Kopenawa fazendo uma fala no festival literário de Paraty, em 2014.
Davi Kopenawa

Sua obra mais conhecida é A queda do céu, escrita em parceria com o antropólogo Bruce Albert.

No livro, Kopenawa compartilha a cosmologia Yanomami, descreve os espíritos e os saberes de sua tradição. Além disso, denuncia as ameaças representadas pelo garimpo, pela mineração e pela destruição da floresta.

Além de registrar a cosmologia de seu povo, sua escrita é também um alerta sobre os riscos que a humanidade corre ao ignorar a natureza e os saberes ancestrais.

Geni Núñez (etnia Guarani)

Geni Núñez é psicóloga, escritora e ativista Guarani.

Cresceu em território indígena e, ao longo de sua trajetória acadêmica, dedicou-se a aproximar a psicologia dos saberes tradicionais de seu povo.

Tornou-se uma voz importante na defesa dos direitos indígenas, na promoção da diversidade afetiva e na luta contra as formas de preconceito e colonialidade que ainda existem na sociedade brasileira.

Em livros como Descolonizando afetos, ela questiona padrões impostos pela sociedade colonial, como certas formas de amar, de se relacionar e de viver.

Sua escrita dialoga com psicologia e filosofia, defendendo uma vida mais livre, plural e conectada aos valores ancestrais indígenas.

Daniel Munduruku (etnia Munduruku)

Daniel Munduruku é escritor e educador nascido na região do rio Tapajós, no Pará. Formado em Filosofia e Psicologia, tornou-se um dos principais escritores indígenas do Brasil, com dezenas de livros publicados, especialmente voltados para crianças e jovens.

Foto que apresenta o escritor indígena Daniel Munduruku.
Daniel Munduruku

Seu trabalho valoriza as memórias, histórias e saberes dos povos indígenas, combatendo o preconceito e fortalecendo a identidade cultural.

Por meio de suas histórias, o autor aproxima leitores da diversidade e riqueza cultural dos povos originários brasileiros.

Kaká Werá Jecupé (etnia Tapuia/Kayapó)

Kaká Werá Jecupé é escritor e ativista dedicado à valorização da filosofia e da espiritualidade indígena.

Nasceu em São Paulo, em contexto urbano, mas desde cedo buscou reconectar-se às raízes indígenas de sua família.

Em obras como A terra dos mil povos, ele apresenta ensinamentos ancestrais e reflexões sobre a relação do ser humano com a natureza.

Sua escrita convida a repensar a vida contemporânea, aproximando o leitor dos saberes tradicionais que conectam corpo, mente e ambiente.

Leia também: Povos indígenas do Brasil: principais etnias, suas culturas e histórias

Referências Bibliográficas

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu. Palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

MUNDURUKU, Daniel. As serpentes que roubaram a noite e outros mitos. Ilustrações crianças Munduruku da aldeia Katõ. São Paulo: Peirópolis, 2001. 56p.

NUÑEZ, Geni. Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar. São Paulo: Paidós, 2023.

WERÁ JEKUPÉ, Kaká. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. São Paulo: Peirópolis, 2003.

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.