Nelson Rodrigues
Nelson Falcão Rodrigues (1912–1980) foi um dos escritores mais ousados e influentes da literatura e do teatro brasileiro.
Nascido em Recife e radicado no Rio de Janeiro desde a infância, viveu intensamente o cotidiano da imprensa, dos palcos e das polêmicas que marcaram o Brasil do século XX. Jornalista precoce, dramaturgo inovador, romancista provocador e cronista do cotidiano, Nelson se destacou por retratar o ser humano em sua complexidade, com todas as suas contradições, desejos e hipocrisias.

Formação jornalística de Nelson Rodrigues
Aos 13 anos, Nelson já trabalhava como repórter policial no jornal A Manhã, fundado por seu pai, Mário Rodrigues. Mais tarde, colaborou com A Crítica, onde viveu uma tragédia familiar: seu irmão Roberto foi assassinado.
O envolvimento com o jornalismo seguiu por toda a vida, passando por veículos como Última Hora, O Globo e Jornal do Brasil. Além da cobertura de temas cotidianos, ele se destacou pelas crônicas sobre futebol, especialmente sobre o Fluminense e o clássico Fla-Flu, ao qual deu um toque poético e dramático.
O teatro brasileiro antes e depois de Nelson
Nelson Rodrigues é considerado o pai do teatro moderno brasileiro. Sua peça mais famosa, "Vestido de noiva" (1943), revolucionou o palco ao usar recursos psicológicos e simultaneidade de planos narrativos.
Outras peças como "Boca de Ouro", "A falecida", e "Toda nudez será castigada" exploram os conflitos morais, sexuais e familiares da classe média urbana. Suas obras tratam de temas tabus como incesto, adultério, crime e religião, sempre com uma linguagem intensa, dramática e recheada de frases de impacto.
Muitas de suas peças enfrentaram censura, como "Álbum de família" e "Senhora dos afogados", que só foram liberadas anos após serem escritas.
Vestido de Noiva
"Vestido de Noiva" é uma peça inovadora, estruturada em três atos e centrada no drama psicológico da protagonista. Ao romper com a forma teatral convencional, a obra mescla planos de consciência, delírio e realidade, construindo uma narrativa fragmentada e não linear.
O enredo gira em torno de um atropelamento, mas o foco está na deterioração mental de Alaíde, cuja história se revela por meio de diferentes dimensões psíquicas representadas no palco.

ISBN: 978-85-7979-060-7
Foi a segunda peça escrita por Nelson Rodrigues e teve direção do polonês Zbigniew Ziembinski, recém-chegado ao Brasil na época. O sucesso estrondoso da montagem marcou uma virada definitiva na carreira do autor, que deixou de ser visto como um dramaturgo marginal para ganhar reconhecimento como um dos maiores nomes do teatro brasileiro.
o que víamos no palco, pela primeira vez, em todo seu esplendor, era essa coisa misteriosa chamada mise en scène (só aos poucos a palavra foi sendo traduzida por encenação), de que tanto se falava na Europa. Aprendíamos, com Vestido de Noiva, que havia para atores outro modo de andar, de falar e gesticular além dos cotidianos, outros estilos além dos naturalistas. Incorporando-se ao real, através da representação, o imaginário e o alucinatório. O espetáculo, perdendo a sua antiga transparência, impunha-se como uma segunda criação, puramente cênica, quase tão original e poderosa quanto a instituída pelo texto. (Décio de Almeida Prado)
Nelson Rodrigues: as crônicas e “A vida como ela é”
Além de dramaturgo, o autor adquiriu fama literária por meio de suas crônicas. Sua coluna "A vida como ela é", publicada no jornal Última Hora a partir de 1951, é um marco da crônica brasileira. Nela, Nelson retrata o cotidiano dos subúrbios cariocas com um olhar brutal, irônico e impiedoso.
Suas coletâneas de crônicas, como "A menina sem estrela", "O óbvio ululante" e "A cabra vadia", mostram um autor que desafiava as convenções. Assim, o dramaturgo expunha as contradições da sociedade e criticava duramente tanto os costumes progressistas quanto os conservadores.
Polêmicas e contradições
Nelson Rodrigues foi chamado pela crítica de “imoral, porém moralista”. Em suas obras, tratava de adultério, incesto, repressão sexual e hipocrisia religiosa, mas ao mesmo tempo fazia severas críticas ao comportamento liberal de sua época. Ele assumia posturas conservadoras, mas expunha com crueza os desejos reprimidos da classe média.
Seu estilo era coloquial, direto e provocador, repleto de frases de efeito e descrições marcantes. Embora tenha apoiado o golpe militar de 1964, também sofreu censura do regime por causa do conteúdo de suas peças.
Os textos do dramaturgo revelam opiniões muitas vezes machistas e contraditórias. Em crônicas como “A grande viúva” e “A feia nudez”, ele aborda a mulher de forma conservadora, criticando a liberdade feminina. Também discutiu a questão racial, como em “Solidão negra”, onde critica o racismo, mas com afirmações que hoje seriam consideradas problemáticas. Politicamente, satirizava tanto a esquerda quanto a juventude engajada, mostrando-se um crítico ácido de todas as ideologias.
Legado e influência
Nelson Rodrigues é considerado um escritor moderno, pertencente à chamada Geração de 45, ao lado de nomes como Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Apesar das contradições, sua obra continua atual por sua capacidade de revelar o lado obscuro da alma humana. Com seu olhar agudo e sua escrita sem filtros, Nelson reinventou a linguagem teatral, deu profundidade à crônica jornalística e trouxe à tona temas que o Brasil preferia esconder.
Ainda hoje sua obra figura nas listas de vestibulares e seu nome é lembrado pelos estudiosos do teatro.
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Referências Bibliográficas
PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 1988, p. 40.
MATE, A.; SCHARCZ, P (org.). Antologia do teatro brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
LUIS, Rodrigo. Nelson Rodrigues. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/nelson-rodrigues/. Acesso em: