Geopolítica norte-americana
Os Estados Unidos ainda são considerados a maior potência global, com influência em questões econômicas, políticas militares e culturais.
Essa liderança, porém, é cada vez mais ameaçada, principalmente pela China. Isso modifica o panorama geopolítico global e o papel dos Estados Unidos nessa nova lógica.
Os tópicos do texto a seguir tratam de como os Estados Unidos tornaram-se a maior potência global, suas ações e intervenções em outros países, alianças estratégicas e futuro da geopolítica norte-americana.
Pilares da geopolítica norte-americana
A geopolítica norte-americana se baseia em quatro poderes principais:
- Econômico: o capitalismo estadunidense está em diversos países através das multinacionais e transnacionais. O país atua fortemente no comércio internacional e no controle de instituições financeiras como o FMI e o Banco Mundial. Isso permite a relevância e o controle necessários para estipular preços e negociar com mais facilidade.
- Militar: uma das principais formas dos Estados Unidos lucrarem é através de guerras e conflitos armados. Nos últimos anos o país foi responsável por 40% das exportações de armas. Os EUA investem mais de 800 bilhões de dólares por ano com o orçamento militar. Além disso, possuem bases militares instaladas em mais de setenta países.
- Tecnológico: indústria bélica, automobilística, de construção, além de centros universitários e de pesquisa de ponta. Atualmente possuem domínio tecnológico sobre as redes sociais, utilizadas praticamente no mundo todo. O país tem à sua disposição dados que podem ser usados de diversas formas, inclusive como influência. É o chamado "soft power" (poder sem o uso da força).
- Cultural: os Estados Unidos exportaram sua cultura principalmente através da arte (música e cinema), das marcas e de seus produto. Após a Segunda Guerra Mundial isso ficou conhecido como "american way of life" (estilo de vida americano).
Principais intervenções norte-americanas do século XXI
Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos intensificaram as intervenções em suas políticas externas. Utilizaram os ataques como justificativa para invasão e controle de outras regiões. A lista a seguir apresenta as principais intervenções das últimas décadas e suas consequências:
Afeganistão (2001-2021)
Objetivo: derrubar o região talibã e combater o grupo Al-Qaeda.
Consequências: foi a guerra mais longa dos EUA e não houve derrubada nem do talibã nem do Al-Qaeda.
Iraque (2003-2011)
Objetivo: invasão sob a justificativa de eliminar armas de destruição em massa do ditador Saddam Hussein. As armas nunca foram encontradas.
Consequências: instabilidade política, conflitos e surgimento do Estado Islâmico.
Líbia (2011)
Objetivo: derrubar o governo de Muammar Kadafi durante os protestos da Primavera Árabe.
Consequências: queda do governo, conflitos e guerra civil.
Síria (desde 2014)
Objetivo: atacar o Estado Islâmico e apoiar grupos contra o presidente Bashar al-Assad.
Consequências: fragmentação do território sírio, disputas de poder e guerra civil.
Ucrânia (desde 2014)
Objetivo: apoio militar e financeiro ao governo ucraniano após a Crimeia ser anexada pela Rússia e reforçar a OTAN.
Consequências: prologamento e intensificação do conflito e polarização geopolítica global.
Regiões do mundo e principais interesses estratégicos
Em um mundo globalizado alianças estratégicas são necessárias para manter a competitividade de um país.
Os Estados Unidos têm parceria com boa parte da Ásia. Possuem aliança militar e tecnológica com o Japão, e um acordo de cooperação de defesa cibernética contra a influência da China e da Coreia do Norte. Com a Coreia do Sul existe um acordo de cooperação em defesa antimíssil e tecnologia militar, principalmente contra a Coreia do Norte.
Em relação à China, existem disputas em diversos âmbitos. Os Estados Unidos apoiam Taiwan econômica e militarmente para tentar conter o crescimento chinês.
A parceria com Israel é territorialmente estratégica. Israel está no Oriente Médio, local de maior produção de petróleo do mundo. Os Estados Unidos possuem uma forte aliança com o país em termos militares, políticos, estratégicos e ideológicos. Fornecem ajuda anual bilionária para Israel atuar militarmente.
No Oriente Médio, além de Israel, os Estados Unidos mantêm acordos com a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar e Bahrein. São interesses estratégicos para controlar o petróleo e para conter o poder do Irã na região.
Com a União Europeia existem muitas disputas comerciais, mas o país mantém forte cooperação econômica, tecnológica, de defesa e de mercado.
Através da OTAN, os Estados Unidos dão apoio direto aos países do Leste Europeu, como Polônia, Romênia, Estônia, Letônia e Lituânia. Neste caso, o interesse é a contenção da influência russa nesses territórios.
Histórico
Desde o final da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos consolidaram seu poder global. Isso se deu principalmente por dois motivos.
- Questão econômica: durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos adaptaram suas fábricas que antes produziam eletrodomésticos, carros e bens de consumo, para fabricarem armas, munições, tanques, etc. Os artefatos de guerra eram rapidamente vendidos, dinamizando a economia. As fábricas aumentaram suas contratações, reduzindo o desemprego.
- Questão territorial: a maior parte dos confrontos e bombardeios ocorreu no território europeu. Quando a Segunda Guerra chegou oficialmente ao fim, os países europeus estavam destruídos e sem infraestrutura. Já os Estados Unidos estavam com sua economia deslanchando e propuseram um plano de financiamento para a reconstrução das estruturas europeias, o Plano Marshall.
Assim, os EUA saíram do conflito como a maior economia mundial e com enorme poderio militar. Fundaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional). Essas organizações supranacionais confirmam a importância e a potência norte-americana.
Durante a Guerra Fria (1947-1991), o país disputou o domínio global com a União Soviética. Porém, após a queda do muro de Berlim (1991), os Estados Unidos tornam-se hegemônicos em seu poder econômico, político e militar.
O século XXI foi marcado pela chamada Nova Ordem Mundial, na qual diversos países disputam o poder e a influência global. Mas, ainda assim, os Estados Unidos se mantêm na liderança dessa disputa.
Futuro da geopolítica norte-americana
O que tem sido visto atualmente é o protagonismo de outros países frente à geopolítica global. China, Rússia, União Europeia e demais países em desenvolvimento, como o Brasil, tem aparecido como potências globais e regionais.
A China consolidou-se como uma das maiores economias do mundo e disputa diretamente a liderança com os Estados Unidos. A rivalidade EUA x China não é apenas econômica. Existe também influência política (principalmente na Ásia, América Latina e África) e disputa por rotas comerciais.
Os Estados Unidos passam por um desgaste da liderança global, derivado principalmente das guerras e intervenções controversas. A tendência dos EUA é manterem a liderança, porém com maior resistência da comunidade internacional.
A polarização política interna do país afeta também a sua política externa. Isso pode gerar instabilidade e enfraquecer o poder de negociação do país.
A geopolítica, de forma geral, estará cada vez mais ligada a guerras não convencionais. Os ciberataques, o controle de dados e o uso da inteligência artificial são algumas das ferramentas que ser usadas nesta nova forma de guerra.
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Referências Bibliográficas
MAUAD, Ana Maria. Impérios em disputa: a geopolítica das grandes potências no século XXI. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2020.
PECEQUILO, Cristina Soreanu. Os Estados Unidos e o século XXI: entre o poder e a crise. São Paulo: Editora Unesp, 2019.
SARAIVA, Miriam Gomes. A política externa dos Estados Unidos. In: PECEQUILO, Cristina Soreanu. Política internacional contemporânea. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 137–168.
SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute. Trends in international arms transfers 2024. Disponível em: https://www.sipri.org. Acesso em: 05 ago. 2025.
Geopolítica norte-americana. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/geopolitica-norte-americana/. Acesso em: