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Exercícios sobre tipos de discurso

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Português e Literatura

Confira a seguir os exercícios sobre tipos de discurso. Os exercícios seguem o padrão ENEM e trabalham um de seus temas mais recorrentes na área de Interpretação de Textos.

Treine seus conhecimentos e continue praticando.

Questão 1

Leia o texto a seguir.

[...]
Até agora aquela música me dava uma tristeza que eu não sabia compreender.
Totóca me deu um puxão. Eu acordei.
— Que é que você tem, Zezé?
— Nada. Tava cantando.
— Cantando?
— É.
— Então eu devo estar ficando surdo.
Será que ele não sabia que se podia cantar para dentro? Fiquei calado. Se não sabia eu não ensinava.
Tínhamos chegado na beira da estrada Rio-São Paulo.
Passava tudo nela. Caminhão, automóvel, carroça e bicicleta.
— Olhe, Zezé, isso é importante. A gente primeiro olha bem. Olha para um lado e para outro. Agora.
Atravessamos correndo a estrada.
— Teve medo?
Bem que tive mas fiz não com a cabeça.
— Nós vamos atravessar de novo juntos. Depois quero ver se você aprendeu.
[...]

VASCONCELOS, José Mauro. O meu pé de laranja lima. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1975.

No trecho apresentado, retirado de uma narrativa literária, a progressão temporal é construída por meio de recursos linguísticos que situam o leitor na sequência dos acontecimentos vividos por Zezé e Totóca.

Na narrativa,

a) o predomínio do discurso indireto livre estabelece simultaneamente a narração e a expressão dos pensamentos do narrador-personagem, dispensando a marcação explícita do tempo.

b) o uso do discurso direto, marcado pelas falas entre aspas e travessões, constrói a cena de forma dinâmica, aproximando o leitor dos acontecimentos e marcando o tempo narrativo pelo encadeamento das ações.

c) o discurso indireto, ao converter as falas das personagens em relato do narrador, acelera a narrativa e amplia o distanciamento temporal entre eventos.

d) o predomínio da narração em terceira pessoa, associado à ausência de diálogos, imprime um ritmo lento à progressão temporal, privilegiando a descrição.

e) o uso exclusivo de descrições estáticas interrompe a sucessão de fatos e dilui a noção de passagem do tempo na narrativa.

Gabarito explicado

O trecho é narrado em primeira pessoa e apresenta forte presença de discurso direto, evidenciado por travessões e pela alternância de falas entre Zezé e Totóca. Esse recurso cria um efeito de cena, tornando os acontecimentos mais imediatos e marcando a progressão temporal por meio da sucessão rápida de falas e ações, como o momento de atravessar a estrada. Diferentemente do indireto ou do descritivo estático, aqui há um encadeamento natural das ações e diálogos, o que aproxima o leitor do tempo presente da narrativa e acelera o ritmo.

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Questão 2

Leia o trecho a seguir.

Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez!
E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a - e neste mesmo instante em algum único lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho.
Macabéa ao cair ainda teve tempo de ver, antes que o carro fugisse, que já começavam a ser cumpridas as predições de madama Carlota, pois o carro era de alto luxo. Sua queda não era nada, pensou ela, apenas um empurrão. Batera com a cabeça na quina da calçada e ficara caída, a cara mansamente voltada para a sarjeta. E da cabeça um fio de sangue inesperadamente vermelho e rico. O que queria dizer que apesar de tudo ela pertencia a uma resistente raça anã teimosa que um dia vai talvez reivindicar o direito ao grito.
(Eu ainda poderia voltar atrás em retorno aos minutos passados e recomeçar com alegria no ponto em que Macabéa estava de pé na calçada - mas não depende de mim dizer que o homem alourado e estrangeiro a olhasse. É que fui longe demais e já não posso mais retroceder. Ainda bem que pelo menos não falei e nem falarei em morte sim apenas um atropelamento.)
Ficou inerme no canto da rua, talvez descansando das emoções, e viu entre as pedras do esgoto o ralo capim de um verde da mais tenra esperança humana. Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela.

No trecho retirado de A hora da estrela, de Clarice Lispector, observam-se diferentes formas de representação da fala e do pensamento das personagens. Em alguns momentos, o narrador converte as palavras ou pensamentos de Macabéa em seu próprio discurso, sem manter a literalidade nem o formato de diálogo direto. Esse recurso é característico do discurso indireto, que, no contexto da narrativa,

a) reproduz fielmente as falas originais da personagem, preservando entonação e marcas de oralidade para manter a cena vívida.

b) permite ao narrador inserir, com liberdade, interpretações e comentários enquanto transmite o conteúdo do que a personagem pensou ou disse.

c) elimina a presença do narrador, deixando que a personagem assuma integralmente a condução da narrativa.

d) estabelece uma ruptura com a ordem cronológica dos fatos, suprimindo qualquer vínculo temporal entre ações e pensamentos.

e) retira todo o caráter subjetivo do pensamento da personagem, apresentando apenas fatos objetivos e descritivos.

Gabarito explicado

No trecho, há momentos em que o narrador relata pensamentos de Macabéa de forma mediada, como em "Sua queda não era nada, pensou ela, apenas um empurrão" e "Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci". Esse uso de discurso indireto transmite o conteúdo mental da personagem, mas filtrado pela voz e pela interpretação do narrador, que mantém controle sobre a enunciação. Diferentemente do discurso direto, não há reprodução literal, e, ao contrário do indireto livre, as marcas sintáticas de subordinação (“pensou ela”) evidenciam a mediação narrativa.

Questão 3

Leia o trecho a seguir.

[...] – Glaxo – disse Mrs. Coates numa voz tensa, cheia de admiração, fitando o alto, e o nenê, deitado rígido em seus braços, fitava o alto. – Kreemo – murmurou Mrs. Bletchley, como uma sonâmbula. Com o chapéu absolutamente imóvel na mão, Mr. Bowley fitava o alto. Cá embaixo no Mall as pessoas estavam paradas olhando o céu. Enquanto olhavam, o mundo inteiro ficou em silêncio completo, e um bando de gaivotas cruzou o céu, primeiro uma gaivota na frente, depois as outras, e nesse silêncio e paz extraordinária, nesta palidez, nessa pureza, os sinos bateram onze vezes, o som desaparecendo aos poucos lá entre as gaivotas. O avião virou, acelerou e se precipitou exatamente onde queria, veloz, livre, como um patinador – – É um E – disse Mrs. Bletchley – ou um bailarino – – É toffee – murmurou Mr. Bowley – (e o carro entrou pelo portão e ninguém olhou), e desligando a fumaça afastou-se cada vez mais, e a fumaça se desvaneceu e foi se reunir aos contornos brancos e volumosos das nuvens. Tinha ido embora; estava atrás das nuvens. Não havia som algum. As nuvens às quais tinham se unido as letras E, G ou L se deslocavam livremente, como que destinadas a ir do Ocidente para o Oriente numa missão da maior importância que jamais seria revelada, embora certamente fosse isso mesmo – uma missão da maior importância. Então, de repente, como um trem saindo de um túnel, o avião saiu em disparada das nuvens, o som perfurando os ouvidos de todos no Mall, no Green Park, em Piccadilly, na Regent Street, no Regent’s Park, e a faixa de fumaça se espiralou atrás e ele mergulhou, subiu e escreveu uma letra depois da outra – mas que palavra estava escrevendo? Lucrezia Warren Smith, sentada ao lado do marido num banco do Broad Walk no Regent’s Park, olhou para cima. – Olhe, olhe, Septimus! – exclamou ela.

WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway. Porto Alegre: LPM, 2012.

A escritora inglesa Virginia Woolf (1882–1941), expoente do modernismo e do “fluxo de consciência”, construiu em Mrs. Dalloway (1925) uma narrativa que entrelaça impressões sensoriais, descrições urbanas e falas curtas, de modo a deslocar suavemente o foco entre diferentes personagens. No trecho apresentado, esse movimento é intensificado por recursos rítmicos e estruturais.

Nesse contexto, a forma como a narradora articula as falas das personagens com a descrição da cidade se caracteriza por:

a) manter uma linearidade temporal rígida, com a descrição do cenário surgindo apenas como moldura posterior aos diálogos.

b) utilizar descrições contínuas e minuciosas para interromper o diálogo, criando uma oposição marcada entre ambiente e subjetividade.

c) inserir falas curtas diretamente no fluxo descritivo, modulando o ritmo por meio de travessões e pausas, o que permite que a narrativa deslize de uma consciência para outra sem sinalizações explícitas de mudança.

d) adotar discurso indireto predominante, dissolvendo completamente a individualidade das vozes das personagens.

e) privilegiar uma sequência fixa de observadores, repetindo a ordem de aparição para reforçar a coesão interna da cena.

Gabarito explicado

Woolf constrói a cena com um ritmo marcado por travessões e inserções súbitas de fala que emergem de dentro da descrição contínua da cidade e do evento aéreo. Não há indicação explícita de transição de ponto de vista; a câmera narrativa parece flutuar entre observadores, guiada pelo próprio movimento do olhar coletivo voltado ao céu. Assim, a fala de cada personagem não interrompe, mas se emenda organicamente à descrição, criando uma percepção partilhada que se desloca sem ruptura.

Questão 4

A terceira margem do rio

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente - minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns 20 ou 30 anos. Nossa mãe jurou muito contra a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

[...]

ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In.: Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, Civilização Brasileira, Três, 1974, p. 51-56.

O discurso indireto livre é um recurso narrativo em que a fala ou o pensamento de uma personagem se mistura à voz do narrador, sem a mediação de verbos dicendi (“disse”, “perguntou”) nem de marcas gráficas típicas do discurso direto. Esse recurso aproxima o leitor da perspectiva subjetiva da personagem, preservando, em parte, sua entonação e léxico.

No trecho de A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa, a presença do discurso indireto livre se percebe, por exemplo, em:

a) “Nosso pai nada não dizia.” — pois há uma reprodução literal da fala da personagem, marcada pela oralidade e pela inserção de pausas próprias do diálogo.

b) “Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático” — pois o trecho exemplifica a narração em terceira pessoa com foco nas ações, sem inserção de perspectiva interna.

c) “Era a sério.” — pois o enunciado curto e objetivo expressa a voz neutra de um narrador onisciente, sem interferência de subjetividade.

d) “Nossa mãe jurou muito contra a ideia.” — pois o narrador relata de forma mediada o conteúdo da fala da mãe, sem deixar transparecer sua entonação original.

e) “Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas?” — pois a pergunta expressa o ponto de vista e a forma de pensar da mãe.

Gabarito explicado

O trecho “Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas?” apresenta o pensamento da mãe de forma fundida ao discurso do narrador, sem uso de marcas explícitas como travessões ou “ela pensou/perguntou”. A estrutura e o tom da pergunta revelam a entonação e o ponto de vista da personagem, mas permanecem dentro da sequência narrativa, configurando o discurso indireto livre típico de Guimarães Rosa, que mescla vozes e confunde os limites entre narrador e personagem.

Questão 5

Texto I

Se disséssemos que a língua é reacionária ou progressista, estaríamos afirmando que ela é um lugar de poder e um de contrapoder. No entanto, só pode haver liberdade fora da linguagem e, ao mesmo tempo, ela é um lugar fechado, que não nos permite situarmo-nos no seu exterior. Se a língua é o lugar da submissão do indivíduo, de sua sujeição, então é o lugar por excelência da inscrição do poder. Em português, os seres são classificados em masculinos ou femininos. O genérico é expresso obrigatoriamente pelo masculino. Não posso expressá-lo pelo feminino nem tenho uma categoria genérica distinta do masculino. Homem é “ser humano do sexo masculino” e também “ser humano em geral”, enquanto mulher é apenas “ser humano do sexo feminino”. Em latim e grego, havia uma palavra para o “ser humano” (homo e ánthropos), uma para o “ser humano do sexo masculino (uir e anér) e uma para o “ser humano do sexo feminino” (mulier e guiné). A mesma coisa acontece em romeno: om, bǎrbat, femei. Em romeno, pode-se referir a uma terceira pessoa usando um pronome que indica respeito por ela (dînsul) ou um pronome que é neutro do ponto de vista da reverência (el). Em português, sempre nos referimos a uma terceira pessoa de forma neutra, nem respeitosa nem desrespeitosa. Em romeno, há dois termos para designar o trabalho: muncǎ e lucrare.

FIORIN, José Luiz. Língua, discurso e política.

Texto II

Quando nós viu já era quase de noite. Uma larica que, sem neurose, era papo de quarenta mendigo mais vinte crente. Tava na hora de meter o pé. E foi aí que rolou o caô. Nós tava tranquilão andando, quase chegando no ponto já, aí escoltamos os canas dando dura nuns menó. A merda é que um dos cana viu nós também, dava nem pra voltar e pegar outra rua. Mas até então, mano, tava devendo nada a eles, flagrante tava todo na mente, terror nenhum. Seguimo em frente.

MARTINS, Geovani. Rolézim,. In: O sol na cabeça.

O Texto I, de Fiorin, é um ensaio que discute como a língua organiza categorias sociais e inscreve relações de poder, adotando a norma-padrão e estrutura lógico-argumentativa. O Texto II, de O sol na cabeça, de Geovani Martins, apresenta a narração em primeira pessoa de um episódio cotidiano, marcada pela oralidade, gírias e construções sintáticas próprias da fala popular urbana.

Compare os textos e analise as afirmações:

I. O Texto I é predominantemente discurso expositivo-argumentativo, mas contém trechos de discurso indireto quando reporta, em forma de explicação, usos e categorias linguísticas de outras línguas.
II. No Texto II, enunciados como “flagrante tava todo na mente, terror nenhum” exemplificam discurso indireto livre, pois incorporam o pensamento do narrador-personagem ao relato, sem verbos de elocução e preservando a entonação coloquial.
III. O Texto II emprega apenas discurso narrativo linear, sem inserção de pensamentos ou percepções diretas do narrador-personagem.
IV. Tanto no Texto I quanto no Texto II, o uso da língua está a serviço de construir sentido e identidade — no primeiro, pela formalidade e pela argumentação; no segundo, pela oralidade e pela simulação da fala espontânea.

Está correto o que se afirma em:

a) I, II e IV, apenas.

b) II e III, apenas.

c) I, III e IV, apenas.

d) I, II, III e IV.

e) II e IV, apenas.

Gabarito explicado

A afirmação I é correta porque, no Texto I, Fiorin incorpora trechos de outras línguas em seu discurso expositivo, configurando um discurso indireto dentro da explicação; a II também é correta, pois o trecho citado do Texto II mescla a voz interior do narrador com a narração, utilizando um léxico oral característico; a III é incorreta, visto que o Texto II não se restringe a uma narrativa linear, incluindo percepções e pensamentos por meio do discurso indireto livre; e a IV é correta, pois ambos os textos empregam recursos linguísticos distintos para construir identidade e cumprir seus propósitos comunicativos específicos.

Questão 6

Leia o texto a seguir.

Em outros termos, o discurso indireto livre (continuando-se a substituir na denominação de Bally discurso a estilo, que é no caso palavra ambígua) estabelece um elo psíquico entre o narrador e o personagem que fala: em vez daquele apresentar o personagem no palco da narração como uma figura dramática, que fala por si (discurso direto) ou de lançá-lo aos bastidores para nos informar objetivamente sobre o que ele disse (discurso indireto estrito), o narrador associa-se ao seu personagem, transpõe-se para junto dele e fala em uníssono com ele.

JÚNIOR, Joaquim Matoso Câmara. O discurso indireto livre em machado de assis.


É um exemplo do discurso indireto livre:

a)
José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre
(Dom Casmurro, capítulo V, "O agregado").

b)
De manhã, na cama, teve um sobressalto. O primeiro jornal que abriu foi a Atalaia. Leu o artigo editorial, uma correspondência, e algumas notícias. De repente, deu com o seu nome. – Que é isto?
(Quincas Borba, capítulo LXVII)

c) Rubião ordenou a um escravo que levasse o cachorro de presente à comadre Angélica, dizendo-lhe que, como gostava de bichos, lá ia mais um[.]
Quincas Borba, capítulo XIII)

d)
Rubião interrompeu as reflexões para ler ainda a notícia. Que era bem escrita, era. Trechos havia que releu com muita satisfação. O diabo do homem parecia haver assistido à cena. Que narração! Que viveza de estilo! Alguns pontos estavam acrescentados – confusão de memória – mas o acréscimo não ficava mal.
(Quincas Borba, capítulo LXVII)

e) Rubião não sabia mais que dissesse; afinal tornou atrás e explicou-se; eram da senhora de um seu amigo particular. Carlos Maria piscou o olho; Freitas interveio dizendo que agora, sim, senhor, estava explicado;
(Quincas Borba, capítulo XXXII)

Gabarito explicado

No trecho "Que era bem escrita, era. Trechos havia que releu com muita satisfação. O diabo do homem parecia haver assistido à cena. Que narração! Que viveza de estilo!", percebe-se a fusão da voz do narrador com a perspectiva e as impressões do personagem. Não há marcas formais de citação (como travessões ou verbos dicendi típicos do discurso indireto), e a entonação e o léxico refletem diretamente o pensamento de Rubião. Esse é justamente o efeito do discurso indireto livre: o narrador “fala em uníssono” com o personagem, mantendo a terceira pessoa, mas assumindo sua subjetividade e sua forma de pensar.

Questão 7

O narrador pode representar as falas ou pensamentos das personagens de diferentes formas:

  • Discurso direto: reprodução literal da fala, com marcas formais (travessões, aspas, verbos dicendi).
  • Discurso indireto: relato da fala ou pensamento subordinado a um verbo dicendi, adaptando pronomes, tempos verbais e advérbios.
  • Discurso indireto livre: fusão da voz do narrador com a perspectiva da personagem, sem marcas formais e mantendo a terceira pessoa, mas preservando o tom subjetivo do enunciador original.

Considerando essas definições, analise as afirmações:

I. No discurso direto, o narrador se afasta momentaneamente para ceder a palavra à personagem.
II. No discurso indireto, o narrador mantém controle da enunciação, reformulando a fala ou pensamento do personagem dentro de sua própria voz.
III. No discurso indireto livre, a fala da personagem é incorporada à narração, de modo que a distinção entre voz do narrador e voz da personagem se torna imperceptível.
IV. Apenas o discurso direto permite perceber entonação e subjetividade da personagem.

Está correto o que se afirma em:

a) I, II e III, apenas.

b) I e II, apenas.

c) II e IV, apenas.

d) I, III e IV, apenas.

e) I, II, III e IV.

Gabarito explicado

As afirmações I, II e III são corretas conforme as definições dos tipos de discurso. A IV é incorreta porque o discurso indireto livre também preserva entonação e subjetividade, mesmo que filtradas pela voz do narrador, permitindo ao leitor captar o modo de pensar da personagem sem citação literal.

Saiba mais em: Tipos de Discurso.

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Língua Portuguesa e Literatura formado pela Universidade de São Paulo (USP) e graduando na área de Pedagogia (FE-USP). Atua, desde 2017, dentro da sala de aula e na produção de materiais didáticos.