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Exercícios sobre o Empirismo (com gabarito explicado)

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Professora de Filosofia e Sociologia

O empirismo é uma das correntes filosóficas mais influentes da Idade Moderna e defende que o conhecimento tem origem na experiência sensível. Pensadores como Francis Bacon, John Locke, George Berkeley, David Hume e Stuart Mill marcaram essa tradição ao discutir como formamos ideias e estabelecemos relações de causa e efeito.

Nesta lista de exercícios com gabarito comentado, você poderá revisar os principais conceitos do empirismo e compreender melhor como essa corrente se contrapõe ao racionalismo, além de preparar-se para provas, Enem e vestibulares com questões explicadas passo a passo.

Questão 1

“Em linhas gerais, “empirismo” significa uma posição filosófica que toma a experiência como guia e critério de validade de suas afirmações, sobretudo nos campos da teoria do conhecimento e da filosofia da ciência. [...] O lema do empirismo é a frase de inspiração aristotélica: “Nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos” (MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2008).

Tendo em vista o trecho, pode-se dizer que uma das características fundamentais do Empirismo é:

A) a defesa de que não existe conhecimento fora da revelação divina;

B) a rejeição da crença de que as ideias são inatas;

C) a defesa de que o conhecimento antecede a experiência;

D) a refutação das teorias aristotélicas acerca da formação do conhecimento humano;

Gabarito explicado

O Empirismo defende que o conhecimento humano é derivado da experiência, ou seja, das percepções e impressões derivadas dos sentidos. Nesse sentido, ele se opõe à concepção de que existem ideias inatas, ou seja, à crença de que nascemos com ideias prontas que precisam ser acessadas ao longo da vida.

Na gnoseologia, o Empirismo é sempre apresentado como contraponto ao Racionalismo e definido como uma corrente do período Moderno, ainda que outros filósofos de períodos anteriores possam ser chamados de “empiristas”, em virtude de suas teorias acerca da formação do conhecimento. É o caso de Aristóteles.

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Questão 2

“XIX: Só há e só pode haver duas vias para a investigação e para a descoberta da verdade. Uma, que consiste no saltar-se das sensações e das coisas particulares aos axiomas mais gerais e, a seguir, descobrirem-se os axiomas intermediários a partir desses princípios e de sua inamovível verdade. Esta é a que ora se segue. A outra, que recolhe os axiomas dos dados dos sentidos e particulares, ascendendo contínua e gradualmente até alcançar, em último lugar, os princípios de máxima generalidade. Este é o verdadeiro caminho, porém ainda não instaurado.

XX: Na primeira das vias o intelecto deixado a si mesmo acompanha e se fia nas forças da dialética. Pois a mente anseia por ascender aos princípios mais gerais para aí então se deter. A seguir, desdenha a experiência. E tais males são incrementados pela dialética, na pompa de suas disputas”. (BACON, F. Nova Organon. Livro I).

De acordo com Bacon, um verdadeiro conhecimento científico tem como fundamento:

A) axiomas universais que se manifestam na mente a partir da reflexão;

B) o uso da dialética, pois esta serve para organizar e refutar as obscuridades derivadas dos sentidos;

C) a valorização do intelecto em virtude dele ser capaz de elaborar os princípios gerais;

D) princípios gerais derivados da observação da experiência, progressivamente constituídos;

Gabarito explicado

Francis Bacon, importante filósofo do século XVI, é um dos nomes do Empirismo Moderno.

No texto acima, Bacon descreve duas vias na formação de um conhecimento verdadeiro: uma baseada no método indutivo tradicional e outra (ainda não aplicada) que propõe uma investigação mais dedicada e gradual do que os dados sensoriais podem oferecer, antes da elaboração dos princípios gerais.

Ao comparar as duas vias, Bacon critica o método indutivo tradicional (método aristotélico), uma vez que, para ele, a indução tradicional somente enumera os casos particulares, passando de forma superficial “das sensações e das coisas particulares aos axiomas mais gerais”. Para ele, isso conduz o intelecto a conclusões precárias e contraditórias.

O método sugerido por Bacon, que posteriormente ficaria conhecido como método indutivo por eliminação, busca a verificação minuciosa dos casos, de modo a excluir das considerações aqueles em que o fenômeno investigado não se apresenta, a fim de produzir progressivamente hipóteses ou generalizações mais coerentes.

Questão 3

“O domínio do homem sobre esse pequeno mundo de seu intelecto é mais ou menos o mesmo que ele tem sobre o grande mundo das coisas visíveis, onde seu poder, mesmo exercido com arte e habilidade, nada mais consegue além de compor e dividir os materiais que estão à disposição, mas nada pode fazer para fabricar a mínima partícula de matéria nova ou para destruir um átomo sequer daquela que já existe. Quem quer que tente forjar em seu intelecto uma ideia simples não recebida de objetos externos através dos sentidos ou da reflexão sobre as operações do seu espírito, encontrará em si essa mesma incapacidade. Gostaria que alguém tentasse imaginar um gosto que nunca tenha afetado seu paladar, ou fazer uma ideia de algum perfume cujo odor nunca tenha sentido; quando puder fazê-lo, eu estaria pronto a concluir que um cego pode ter ideias das cores e um surdo noções distintas dos sons". (LOCKE, J. Ensaio acerca do Entendimento Humano, apud: REALE, 2005 , p.96).

John Locke foi um importante pensador do Empirismo. No trecho acima, retirado de sua obra Ensaio acerca do Entendimento Humano, Locke está tratando acerca das ideias que formamos em nosso intelecto. De acordo com o trecho, as ideias:

A) surgem em nossa mente sem terem um ponto de partida, por isso, uma pessoa com deficiência visual tem ideia acerca das cores;

B) não existem no espírito humano, pois elas são efeitos de um Intelecto cujo intelecto humano está conectado;

C) não podem ser criadas do nada em nosso espírito, nem, as que já existem nele, ser destruídas;

D) são efeitos da captação dos sentidos e o homem não tem poder de transformá-las ou desenvolvê-las, sendo elas sempre simples;

Gabarito explicado

No trecho acima, Locke elabora uma espécie de analogia para explicar a constituição das ideias na mente humana. Ele procura mostrar que, assim como o homem não tem o poder de criar ou extinguir a matéria, ele não tem o poder de criar do nada ou destruir as ideias.

Para Locke, todas as ideias humanas derivam de algum lugar: elas se formam a partir das informações captadas pelos sentidos (experiências externas) e da reflexão que o homem faz de suas operações internas (experiências internas). Em posse dessas ideias, o homem pode combiná-las e formar ideias complexas ou separar umas das outras para formar ideias gerais.

Questão 4

“Assim, imaginar o busto de um homem sem as pernas, assim concebo o perfume de uma rosa sem pensar na rosa. Não negarei que seja possível abstrair até este ponto: caso se possa corretamente chamar de "abstração" um ato que se limita exclusivamente a conceber separadamente certos objetos que podem realmente existir separados, ou então ser efetivamente percebidos separadamente. Todavia, meu poder de concepção ou de imaginação não vai além da possibilidade real de existência ou de percepção: portanto, uma vez que me é impossível ver ou tocar algo se não sinto atualmente a coisa, também me é impossível conceber em meus pensamentos uma coisa ou objeto sensível distinto da sensação ou percepção dele. Na realidade, objeto e sensação dele são a mesma e idêntica coisa, e não podem, portanto, ser abstraídos um do outro”. (BERKELEY, Os Princípios do Conhecimento Humano, apud: REALE, 2005, p. 127).

De acordo com o texto, para Berkeley, as ideias:

A) são em sua totalidade particulares, não havendo ideias abstratas;

B) são derivadas de intuições, sendo inatas no ser humano;

C) são separadas dos objetos da percepção, sendo dados intelectuais puros;

D) saem de objetos particulares, como o perfume de uma rosa, e se tornam objetos universais de pensamento;

Gabarito explicado

O trecho é uma crítica que Berkeley lança à concepção lockeana de ideias abstratas. Para George Berkeley (1685-1753), nossa capacidade de conceber ideias não vai além do que pode ser realmente percebido ou imaginado.

Mesmo que possamos pensar na particularidade de um objeto, sem pensar nele próprio (conceber o perfume da rosa sem pensar na própria rosa), não é possível concebermos uma ideia abstrata de algo, dispensando dela as informações particulares obtidas pela experiência.

Quando pedimos a alguém para pensar em uma “cadeira”, por exemplo, ainda que o termo “cadeira” esteja sendo usado em referência a todas as “cadeiras” que a pessoa já viu, na mente dela se desenhará a forma de apenas uma cadeira específica.

Questão 5

“Certamente, temos aqui ao menos uma proposição bem inteligível, senão uma verdade, quando afirmamos que, depois da conjunção constante de dois objetos, por exemplo, calor e chama, peso e solidez, unicamente o costume nos determina a esperar um devido ao aparecimento do outro. Parece que esta hipótese é a única que explica a dificuldade que temos de, em mil casos, tirar uma conclusão que não somos capazes de tirar de um só caso, que não discrepa em nenhum aspecto dos outros. A razão não é capaz de semelhante variação. As conclusões tiradas por ela, ao considerar um círculo, são as mesmas que formaria examinando todos os círculos do universo. Mas ninguém, tendo visto somente um corpo se mover depois de ter sido impulsionado por outro, poderia inferir que todos os demais corpos se moveriam depois de receberem impulso igual”. (HUME, D. Ensaio sobre o Entendimento Humano. Seção V).

De acordo com as palavras de David Hume, pode-se dizer que:

A) o princípio de causa e efeito é resultado do intelecto puro;

B) a inferência de causa e efeito de um evento é resultado do hábito;

C) a relação entre matéria e forma é resultado da influência dos corpos celestes;

D) a conjunção que fazemos entre dois objetos é derivado de um raciocínio;

Gabarito explicado

No trecho, David Hume enfatiza que todas as conclusões que produzimos entre dois eventos, de modo a correlacionar ambos (como se um fosse causa do outro), derivam de nossa experiência. Somos propensos, pela repetição dos eventos, a sempre esperar que a mesma dinâmica de causa e efeito entre os eventos ocorra. Essa propensão é o que Hume entenderá por hábito e que determina nossos pensamentos.

Questão 6

Leia os textos e responda:

Texto I

“[...] as proposições gerais, sejam chamadas de definições, axiomas ou leis da natureza, que estabelecemos no início de nossos raciocínios, são meramente declarações resumidas, em um tipo de abreviação, dos fatos particulares [...]”. (MILL, S. J. Sistema de Lógica, apud: FRANCISCO, 2022, p.4).

Texto II

“Quando inferimos que o Duque de Wellington é mortal de “Todo os homens são mortais”, o que realmente fazemos é inferir a mortalidade do Duque da mortalidade das pessoas individuais cuja mortalidade nos é familiar. O que a mente faz ao realizar uma inferência dedutiva não é passar de uma verdade universal para uma verdade particular”. (HEYDT, 2014, p.204).

Tendo em vista os textos, para Stuart Mill, pode-se dizer que as proposições universais da lógica dedutiva são:

A) inferências que nos informam o que já sabemos, sendo derivadas de fatos particulares coletados;

B) verdades absolutas que revelam fatos sobre o mundo e que se constituem a priori;

C) conclusões que geram um conhecimento novo sobre a realidade;

D) ideias abstratas, importantes na construção da ciências, e que surgem de um raciocínios puros, anteriores a experiência;

Gabarito explicado

Ambos os textos apontam para a crítica de Stuart Mill à quem defende a lógica dedutiva como fonte de conhecimento novo. Para ele, as premissas dedutivas (como “Todos os homens são mortais”) não são verdades a priori, mas apenas um resumo ou abreviações dos vários fatos particulares por nós observados e que possuem uma semelhança (como a morte das várias pessoas que conhecemos ou ouvimos falar). Por isso, Mill (apud: FRANCISCO, 2022, p.4) afirma “toda inferência é de particulares a particulares”.

Questão 7

“Para Lakoff e Johnson (2002, p. 298), tanto o racionalismo quanto o empirismo precisam um do outro para existir. O racionalismo alia-se à verdade científica, à racionalidade, à precisão, à justiça e à imparcialidade. O empirismo, por sua vez, alia-se às emoções, ao conhecimento intuitivo, à imaginação, aos sentimentos humanos, à arte. Destacam que, mesmo aliando-se a esses elementos, a apreensão lógico-racional se faz presente no empirismo.

Essas duas correntes filosóficas não constituem a única alternativa para se explicar o conhecimento. Lakoff e Johnson (2002) propõem, então, uma síntese experiencialista, em que a metáfora seria o elemento que liga razão e imaginação. Para os autores, a razão, no mínimo, envolve a categorização, a implicação, a inferência. A imaginação, por seu turno, implica ver um tipo de coisa em termos de outro tipo de coisa. Sendo assim, a metáfora se define como uma racionalidade imaginativa, uma vez que o pensamento cotidiano é amplamente metafórico e os raciocínios diários envolvem implicações e inferências metafóricas”. (SILVA, L. A. Racionalismo e empirismo: o papel da imaginação no processo de conceptualização. Via Litterae, Anápolis, v. 5, n. 1, jan./jun. 2013, p. 59).

De acordo com o texto, Lakoff e Johnson dão outra saída ao problema clássico da derivação do conhecimento verdadeiro. A solução de ambos incorre:

A) na consideração de uma verdade relativa;

B) na destituição do conhecimento empírico;

C) na exaltação da racionalidade baseada na intuição;

D) numa síntese mediada pela metáfora;

Gabarito explicado

O texto mostra que, embora o Racionalismo e o Empirismo sejam correntes filosóficas importantes, elas não são a única forma de se alcançar o conhecimento. É possível, segundo George Lakoff (linguista e cientista cognitivo) e Mark Johnson (filósofo contemporâneo e cientista cognitivo), seguir por uma terceira maneira a partir da conciliação das ideias de ambas correntes. Isso ficará conhecido como “síntese experiencialista”.

Essa síntese propõe a metáfora como elemento de ligação entre a razão (Racionalismo) e a imaginação (Empirismo). A metáfora é definida como uma “racionalidade imaginativa”, uma vez que alia raciocínios ou conceitos abstratos (tempo, sentimentos etc) e as imagens particulares que a imaginação processa do dia a dia.

Continue praticando com exercícios sobre Filosofia Moderna (com respostas explicadas).

Referências Bibliográficas

BACON, F. Nova Organon m ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza. Tradução e notas de José Aluysio Reis de Andrade. In: Acrópolis.

FRANCISCO, A. M. “Stuart Mill: o empirismo e o problema para fundamentação da matemática”. Kalagatos: revista de Filosofia, v. 19, n. 1, 2022.

HEYDT, C. “Tradução: John Stuart Mill (1806-1873)” Theoria: Revista Eletrônica de Filosofia da Faculdade Católica de Pouso Alegre, v. VI, n. 16, 2014.

HUME, D. Ensaio Sobre o Entendimento Humano. Tradução de Anoar Aiex. In: Acrópolis.

MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: de Spinoza a Kant, v. 4. São Paulo: Paulus, 2005.

SILVA, L. A. Racionalismo e Empirismo: o papel da imaginação no processo de conceptualização. Via Litterae, Anápolis, v. 5, n. 1, jan./jun. 2013.

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Bacharela e Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (2014), com Mestrado em História da Filosofia pela mesma universidade (2017). Atua como professora na rede privada e estadual de ensino, ministrando aulas ligadas às áreas de Filosofia e de Sociologia.