Exercícios sobre figuras de pensamento
As figuras de pensamento são recursos expressivos que enriquecem a comunicação, permitindo que ideias e sentimentos sejam transmitidos de forma mais criativa, intensa ou sugestiva. Ao estudá-las, desenvolvemos não apenas o domínio da língua, mas também a capacidade de interpretar diferentes intenções e efeitos de sentido em textos literários, jornalísticos e publicitários.
Confira estes exercícios variados para identificar e compreender figuras de pensamento. Prepare-se para explorar exemplos em poemas, tirinhas, notícias e anúncios, e aprimore sua leitura crítica e sensibilidade linguística.
Questão 1
GOMES, Clara. O filme - 2. Publicado em: 6 de abril de 2011. Disponívem em: bichinhosdejardim.com
A origem da palavra “eufemismo” advem do grego. A análise etimológica estabelece que: eu = agradável, bom, e pheme = palavra. Dessa forma, produz-se o termo euphémein, que pode ser traduzido como “pronunciar palavras agradáveis”.
Um exemplo dessa figura de pensamento está presente e corretamente analisado no(a):
a) uso da expressão “decadência de uma raça”, que suaviza os problemas da humanidade com uma visão objetiva, configurando eufemismo.
b) ironia com que os personagens tratam os humanos como objetos de estudo, expressando-se de forma cômica.
c) substituição da crítica direta aos humanos pela frase elaborada “narrar poeticamente o desafio dos seres racionais mais frágeis do planeta diante do apocalipse”, que ameniza o sentido duro da crítica inicial.
d) exagero retórico da fala “desafio dos seres racionais diante do apocalipse”, representando uma hipérbole para causar impacto.
e) uso de expressões metafóricas como “seres racionais mais frágeis do planeta”, que atribuem aos humanos uma contradição lógica típica do paradoxo.
A alternativa C descreve corretamente o uso de eufemismo na tirinha: a fala do caracol transforma a crítica direta e negativa da joaninha (“denunciar a decadência de uma raça”) em uma formulação poética e atenuada, típica de quem busca suavizar ou tornar mais agradável uma realidade dura ou ofensiva. Isso é característico do eufemismo, conforme a definição etimológica apresentada no enunciado.
Questão 2
Sete anos de pastor Jacob servia
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando se com vê la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida;
começa de servir outros sete anos,
dizendo:-Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.
Texto de Luís Vaz de Camões.
No poema, Camões narra com lirismo o amor persistente de Jacob por Raquel, destacando oposições que reforçam o contraste entre o desejo e a realidade. A antítese, figura de pensamento baseada na justaposição de ideias contrárias, é identificada com mais clareza no verso:
a) “Sete anos de pastor Jacob servia / Labão, pai de Raquel, serrana bela” – oposição entre pastor e pai.
b) “Porém o pai, usando de cautela, / em lugar de Raquel lhe dava Lia” – contraste entre precaução e desejo.
c) “Começa de servir outros sete anos” – contraposição entre esforço antigo e renovado.
d) “Mais servira, se não fora / para tão longo amor tão curta a vida” – oposição direta entre a duração do amor e a brevidade da vida.
e) “Vendo o triste pastor que com enganos / lhe fora assi negada a sua pastora” – contraste entre fidelidade e traição.
A antítese aparece nitidamente no último verso: “para tão longo amor tão curta a vida”. Há aqui a justaposição de “longo” e “curta”, que expressam ideias opostas quanto à duração do amor e da existência, intensificando o drama do sentimento interrompido pela finitude da vida.
Questão 3
Comunidade centenária de palafitas sem saneamento vai abrigar estação de esgoto de áreas nobres na capital da COP 30
Moradores da Vila da Barca, uma das maiores comunidades de palafita da América Latina, dizem que não foram consultados e que obra não deve beneficiar a comunidade. Governo diz que ʼnão há risco sanitário ou ambientalʼ.
Moradores da Vila da Barca, uma das maiores comunidades de palafita da América Latina, localizada na periferia de Belém, reclamam da construção de uma estação elevatória para tratamento do esgoto de áreas nobres da capital. Em sua existência centenária, a Vila nunca possuiu sistema de saneamento.
"A gente pediu para ser várias coisas, mas não queríamos receber lama e muito menos esgoto", diz a educadora de cidadania climática, moradora e líder comunitária Suane Barreirinhas.
Na cidade com dezenas de obras em andamento para a COP 30, a estação elevatória de esgoto na Vila da Barca não integra oficialmente a lista de investimentos com foco na Conferência das Nações Unidas, mas os trabalhos na área contam com placas de isolamento que mencionam o evento.
[...]
BESSA, Juliana. Comunidade centenária de palafitas sem saneamento vai abrigar estação de esgoto de áreas nobres na capital da COP 30. In.: g1. Publicado em: 08 ago. 2025.
O texto jornalístico acima denuncia a invisibilidade social e o tratamento desigual dado a comunidades periféricas diante de grandes projetos urbanos. Para tornar a exposição mais expressiva, o jornalista recorre a recursos estilísticos que aproximam o discurso técnico da linguagem literária.
Considerando as figuras de linguagem, identifica-se um traço de prosopopeia no seguinte trecho:
a) “Moradores da Vila da Barca reclamam da construção de uma estação elevatória” – atribui agência aos moradores.
b) “A gente pediu para ser várias coisas” – revela a ironia da personagem sobre o descaso com a comunidade.
c) “A estação elevatória de esgoto não integra oficialmente a lista de investimentos” – aponta um dado objetivo, sem marcas expressivas.
d) “Na cidade com dezenas de obras em andamento para a COP 30” – indica contraste entre progresso urbano e negligência social.
e) “Em sua existência centenária, a Vila nunca possuiu sistema de saneamento” – atribui à comunidade um histórico de carência como se fosse um sujeito capaz de possuir algo.
A alternativa E evidencia a personificação, pois o sujeito da frase ("a Vila") é um espaço físico (uma comunidade), mas é tratado como se tivesse consciência histórica e capacidade de “possuir” algo.
O uso do verbo "possuir", tipicamente humano, atribui à Vila uma condição de sujeito animado, característica essencial da personificação.
Questão 4
Mar e lua
Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar
Canção de Chico Buarque
Com base na análise do trecho acima, assinale a alternativa que interpreta corretamente os efeitos da linguagem e da construção poética.
a) A repetição de verbos no gerúndio cria um ritmo estático, marcando a paralisação das personagens frente ao fluxo incontrolável da vida.
b) O uso de gradação descendente e de verbos no gerúndio reforça a ideia de dissolução progressiva das personagens, que se integram gradualmente à natureza em um processo contínuo de transformação.
c) O gerúndio indica ações completadas no passado, sugerindo que as personagens já não fazem mais parte daquele ambiente, apenas o observam à distância.
d) A progressão dos elementos naturais (peixes, conchas, areia) é utilizada para construir uma imagem de resistência das personagens frente à opressão social, expressa pelo mar como símbolo de ameaça.
e) A repetição de "virando" reforça o uso do pleonasmo, figura de linguagem predominante no trecho, com o objetivo de destacar a literalidade das ações descritas.
A alternativa B é a correta porque identifica com precisão a figura da gradação descendente, ou seja, uma sequência de imagens que vai do corpo humano (mulheres) até os elementos mais ínfimos da natureza (areia). Essa transformação é marcada tanto semanticamente (do mais orgânico ao mineral) quanto verbalmente, por meio da repetição do verbo "virar" no gerúndio: virando peixes, virando conchas, virando seixos, virando areia.
Questão 5
Leia o texto a seguir.
A partir da análise verbal e não verbal e da reflexão sobre as figuras de linguagem, entende-se que a(o)
a) imagem utiliza a antítese, ao opor o crescimento do mosquito ao descuido com o ambiente, criando contraste entre saúde e doença.
b) tamanho exagerado do mosquito é um exemplo de hipérbole, com o objetivo de reforçar visualmente a gravidade do problema da dengue.
c) cartaz recorre à ironia, ao mostrar o mosquito enorme enquanto afirma que ele não deve crescer, sugerindo o oposto do que está sendo dito.
d) imagem representa uma prosopopeia, ao atribuir ao mosquito um tamanho simbólico que sugere comportamento humano de dominação do espaço urbano.
e) campanha utiliza uma eufemização visual, suavizando o impacto do problema ao representar o mosquito como uma ameaça genérica e abstrata.
A alternativa correta é a B porque identifica o uso da hipérbole não verbal, presente na representação exagerada do mosquito em tamanho desproporcional ao ambiente, recurso visual que intensifica o alerta sobre os riscos da dengue. Esse exagero visa provocar impacto, sugerindo que, se não houver prevenção, o problema pode “crescer” de forma incontrolável, como reforça também o texto verbal “Não deixe a dengue crescer”.
Questão 6
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
Texto de Gregório de Matos.
No poema de Gregório de Matos, o eu lírico constrói reflexões que expressam uma visão típica do Barroco, baseada em contrastes e questionamentos existenciais. A figura de linguagem predominante é o paradoxo, que contribui para:
a) reforçar a ideia de que a natureza e os sentimentos humanos são previsíveis, estáveis e passíveis de controle racional.
b) revelar uma crítica moralizante à ignorância do homem diante da constância do bem, apontando para a necessidade de fé religiosa.
c) mostrar a efemeridade da beleza e dos prazeres, por meio de contradições que revelam a instabilidade de tudo o que parece firme ou duradouro.
d) defender que, embora haja sofrimento e dor, os elementos positivos da vida como a luz e a alegria triunfam sobre a escuridão e a tristeza.
e) valorizar a alternância entre dia e noite como metáfora do ciclo eterno e equilibrado da vida, exaltando a harmonia do universo.
A alternativa C é a correta, pois identifica o paradoxo como figura de linguagem que expressa a instabilidade dos valores humanos e naturais, ao afirmar, por exemplo, que "em contínuas tristezas [há] a alegria" e que há "firmeza somente na inconstância". Tais afirmações aparentemente contraditórias compõem uma visão barroca, marcada pelo conflito entre aparência e essência, entre o que é belo e o que se desfaz, entre o prazer e a dor.
Questão 7
Leia o trecho a seguir.
É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende?
Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único.
E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos.
TENÓRIO, Jefferson. O avesso da pele.
No trecho acima, a presença da figura da apóstrofe contribui para a construção de uma linguagem intimista e reflexiva. Essa figura é responsável por:
a) apresentar a interrupção do discurso racional para descrever sensações subjetivas, introduzindo metáforas corporais.
b) marcar a alternância entre primeira e terceira pessoa, evidenciando uma tensão entre quem narra e quem é narrado.
c) construir um tom de denúncia, por meio da descrição impessoal de uma estrutura social opressiva baseada na cor da pele.
d) estabelecer uma interlocução direta com um “você”, real ou simbólico, ao qual se dirige o discurso de forma afetiva e pessoal.
e) criar um distanciamento entre o sujeito e o interlocutor, a fim de garantir uma análise objetiva e universal sobre o racismo.
A alternativa D é a correta porque reconhece que a apóstrofe está presente no texto por meio da interlocução direta com o “você” — uma pessoa evocada no discurso de maneira afetiva, íntima e reflexiva. Essa escolha estilística aproxima o leitor da experiência narrada e personaliza a reflexão sobre identidade, resistência e afeto, reforçando a força do vínculo entre narrador e interlocutor.
Questão 8
Leia o anúncio a seguir.
Nesse anúncio, a linguagem é utilizada de forma criativa para promover um serviço de estética animal. Considerando os efeitos de sentido produzidos, assinale a alternativa que identifica corretamente os recursos linguísticos utilizados e sua função no texto.
a) A metáfora "seu cão sai um gato" é empregada literalmente, indicando que o serviço transforma a espécie do animal, valorizando a eficiência biológica do pet shop.
b) A antítese entre “cão” e “gato” constrói uma crítica social ao consumo de serviços estéticos que distorcem a identidade dos animais.
c) O paradoxo implícito e o duplo sentido da palavra “gato” reforçam o humor da propaganda, ao sugerirem que o animal fica tão bonito que parece outro, destacando a qualidade do serviço.
d) A hipérbole presente no enunciado visa denunciar o excesso de vaidade nos donos de pets, apresentando um tom de ironia e reprovação.
e) O uso do eufemismo ameniza os efeitos da transformação estética, ao comparar o cão a um gato sem causar impacto negativo.
A alternativa C é a correta porque reconhece que o anúncio se apoia em figuras de linguagem, como o paradoxo (afirmar que um cão sai como gato, o que é logicamente impossível) e o duplo sentido da palavra “gato”, que, além de animal, é uma gíria para algo ou alguém bonito, charmoso. Esses recursos criam um efeito de humor e surpresa, valorizando os resultados do serviço de banho e tosa.
Estude mais as figuras de pensamento.
Continue praticando:
Exercícios de figuras de linguagem com gabarito
Exercícios de figuras de sintaxe (com gabarito)
Exercícios de figuras de som (com gabarito comentado)
LUIS, Rodrigo. Exercícios sobre figuras de pensamento. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-figuras-de-pensamento/. Acesso em: