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Exercícios sobre epicurismo (com gabarito explicado)

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Professora de Filosofia e Sociologia

O epicurismo, filosofia criada por Epicuro no século IV a.C., tem como objetivo principal a busca pela felicidade por meio do equilíbrio dos desejos, da moderação e da serenidade da alma (ataraxia). Longe de defender uma vida de prazeres desenfreados, Epicuro propunha uma reflexão prática sobre como viver bem, eliminando medos irracionais — como o temor da morte e das divindades — e cultivando uma existência tranquila e prazerosa.

Confira estes exercícios sobre o pensamento epicurista, em formato semelhante ao ENEM, acompanhados de gabarito comentado, que ajudarão a compreender melhor como essa corrente filosófica pensava a vida, o prazer e a liberdade humana.

Questão 1

Para ele [Montaigne], [...] depende do próprio indivíduo, por um método que não é outro que a filosofia, fazer a sua salvação neste mundo. Trata-se de obter satisfação. Isso é possível regulando e limitando nossos desejos. Vamos nos ater ao que eles têm de natural. Tem esse caráter todos aqueles que nos podem facilmente satisfazer em nossas condições de vida habituais. (CONCHE, apud: THEOBALDO, 2021, p. 312).

De acordo com o trecho, o filósofo Michel de Montaigne, pensador do século XVI, defende que um indivíduo para encontrar salvação deve desenvolver uma filosofia baseada na satisfação. Montaigne, com isso, está resgatando a concepção do pensamento:

A) eleático, cuja ideia de satisfação e salvação está atrelada à compreensão acerca dos princípios da realidade;

B) epicurista, que defende a suspensão do juízo como forma de encontrar a felicidade e, portanto, a salvação;

C) estoico, que defende o determinismo ético como forma de se ter uma vida satisfeita;

D) epicurista, cuja filosofia se volta para realização dos desejos para obtenção da ataraxia;

Gabarito explicado

Entre as fases do pensamento de Montaigne (1533-1592), há aquela em que o filósofo renascentista ancora suas ideias na filosofia epicurista.

Ao tratar de uma vida baseada na satisfação, a partir da regulação dos desejos, Montaigne retoma uma das concepções centrais do epicurismo, que defende a realização dos desejos naturais e necessários como forma de se obter prazeres moderados - algo que conduz a alma humana a um estado de tranquilidade e, com efeito, de felicidade.

Ao contrário do que está exposto na alternativa b, o epicurismo não defende a suspensão do juízo como saída ao sofrimento, sendo este um método utilizado pelo ceticismo.

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Questão 2

“Não é possível uma vida agradável se não se vive com sabedoria, moderação e justiça, nem é possível uma vida sábia, moderada e justa se não se vive agradavelmente. Se faltar uma dessas condições (quando, por exemplo, o homem não é capaz de viver sabiamente), embora ele viva moderada e justamente, é-lhe impossível viver agradavelmente” (EPICURO. Máximas Principais, V).

De acordo com o pensamento epicurista, para que haja uma vida com satisfação:

A) o homem deve agir com moderação, sabedoria e justiça;

B) deve-se perseguir tudo que possa trazer prazer;

C) deve se agir somente com moderação, pois a sabedoria surge como efeito desta;

D) o homem deve evitar aquilo que não tem controle, a fim de evitar os sofrimentos;

Gabarito explicado

Ainda que Epicuro atrele a felicidade a satisfação dos desejos, seu pensamento não defende uma busca desenfreada pelo prazer. Pelo contrário, Epicuro ensinava que a vida agradável só pode ser alcançada quando se vive de forma equilibrada, tendo a sabedoria, a moderação e a justiça como guias.

Questão 3

“Aristóteles tinha proclamado a independência e a legitimidade dos estudos especulativos; tinha posto a necessidade de saber num lugar principal entre os apetites naturais do homem, e tinha sustentado que o esforço que despendemos em contentá-lo é o mais nobre emprego que podemos dar à nossa atividade, que as ciências devem ser mais estimadas quanto mais inúteis são, e, por fim, que as virtudes teóricas são mais perfeitas do que as virtudes práticas.

A doutrina de Epicuro é muito menos ambiciosa; a vida prática deve ser não somente a nossa principal, mas também a nossa única preocupação. A filosofia não é uma ciência, é uma regra de procedimento: ʼEpicuro dizia que a filosofia era uma atividade destinada a estabelecer, por meio de raciocínios e de discussões, uma vida felizʼ”. (JOYAU, E. In: Epicuro Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973).

De acordo com o texto, pode-se dizer que:

A) enquanto a filosofia para Aristóteles era um saber produtivo, Epicuro acreditava que ela era uma teoria da virtude para o desenvolvimento do espírito;

B) a filosofia epicurista se preocupava com as mesmas questões da filosofia aristotélica, ou seja, era uma ciência do ser enquanto ser;

C) o filosofar, para os epicuristas, voltava-se para a realidade prática, como forma de evitar o sofrimento;

D) a filosofia aristotélica especulava acerca das virtudes práticas e sua origem;

Gabarito explicado

O texto afirma claramente que para Epicuro, “a vida prática deve ser não somente a nossa principal, mas também a nossa única preocupação”. A citação seguinte reforça isso, dizendo que a filosofia é “atividade destinada a estabelecer uma vida feliz”. Esse objetivo de buscar uma “vida feliz”, no pensamento epicurista, está diretamente ligado à busca pela ataraxia, a imperturbabilidade da alma (ausência de sofrimento), o qual se dá pela satisfação dos desejos.

Embora Aristóteles tenha discutido em suas obras éticas sobre as virtudes práticas, ele valorizava o conhecimento especulativo e, portanto, teórico.

Questão 4

“Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é a privação da sensibilidade”.

“É insensato aquele que diz temer a morte, não porque ela o aflija quando sobrevier, mas porque o aflige o prevê-la: o que não nos perturba quando está presente inutilmente nos perturba também enquanto o esperamos”. (EPICURO. Antologia de Texto de Epicuro. In: Epicuro Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973).

De acordo com o pensamento epicurista, a morte:

A) é o fim da vida, cujo sofrimento faz parte e deve ser aceito;

B) é ausência de dor, portanto, algo que quando ocorre não causa perturbação a alma;

C) faz parte da transição para outra forma de existência, por isso, não devemos temê-la;

D) é a privação da sensibilidade, portanto, é uma outra forma de ser;

Gabarito explicado

A morte na visão de Epicuro é nada, ou seja, é ausência de ser. Logo, não traz sofrimento, pois é privação de sensibilidade. Assim sendo, o filósofo afirma que é inútil sofrermos por algo que, quando ocorrer, não traz sofrimento.

Questão 5

“A finalidade de todas as nossas ações é nos livrar do sofrimento e do temor, e quando atingimos esse objetivo desaparece toda a tempestade da alma, porquanto a criatura viva não tem necessidade de buscar algo que lhe falta, nem de procurar coisas com que possa realizar o bem da alma e do corpo. Sentimos necessidade do prazer somente quando sofremos pela ausência do prazer, mas quando não sofremos não sentimos mais necessidade do prazer”. (EPICURO, Carta a Meneceu).

De acordo com o pensamento de Epicuro, o prazer é:

A) algo que o homem carece e que atinge apenas na morte;

B) o extremo oposto do sofrimento que leva o homem ao desequilíbrio;

C) um estado de apaziguamento do corpo e da alma, portanto, um bem;

D) algo que leva a falta de saciedade e a violência, forçando o homem a busca pelo equilíbrio;

Gabarito explicado

O prazer (hedoné) no pensamento epicurista é um estado de ausência de sofrimento, sendo, portanto, algo que leva o homem a ataraxia (imperturbabilidade da alma). Ele é algo desejado pelo homem, principalmente quando este está em sofrimento, seja físico, seja no espírito.

O prazer conquistado pela satisfação de desejos naturais e necessários é algo estável, sendo um bem mais durável que permite ao homem viver com moderação e atingir a felicidade.

Questão 6

“A principal perturbação das almas humanas tem sua origem na crença de que esses corpos celestes são bem aventurados e indestrutíveis, e que ao mesmo tempo têm vontades e praticam ações e são causas incompatíveis com este seu estado; na expectativa e na apreensão constante de algum castigo eterno sob a influência dos mitos, ou por temor a mera insensibilidade que há na morte, como se esta tivesse algo a ver conosco, e finalmente porque se acham nessas condições não por uma convicção firme e sim por uma espécie de delírio irracional, de tal forma que não põem limite algum a seus terrores, essas pessoas sofrem uma perturbação igual ou ainda mais intensa que a daquele que nesses assuntos seguem opiniões vãs” (EPICURO, apud: MARTINS; COSTA, 2016, p. 60).

Analisando o trecho, Epicuro tem como objetivo:

A) desmistificar ou demitologizar a natureza, uma vez que vê o temor nas crenças como parte do sofrimento humano;

B) promover a regulação dos comportamentos humanos a partir das crenças mitológicas;

C) incentivar o homem a ir em busca de um conhecimento metafísico, pois a finalidade do homem é contemplar a verdade do mundo das ideias;

D) derrubar a religião grega e tornar a pólis um estado laico, uma vez que percebe que o fanatismo produz homens covardes;

Gabarito explicado

A filosofia de Epicuro busca libertar o ser humano dos sofrimentos e isso inclui tentar liberá-los dos medos criados pelas superstições.

No trecho, Epicuro aponta para a incoerência entre a ideia de corpos celestes bem-aventurados e a crença de agirem punindo os seres humanos. Para Epicuro, os seres que são bem-aventurados não se importam com assuntos humanos e não buscariam interferir na realidade deles, pois, uma vez que já são felizes, não possuem vontades e não carecem de ir em busca de nada.

Questão 7

“Embora possamos até certo ponto nos colocar em segurança face aos homens por meio do poderio e da riqueza, obtemos uma segurança ainda mais completa vivendo tranquilamente longe da multidão” (EPICURO, Máximas Principais, XIV).

A busca de um local para se viver “tranquilamente longe da multidão” pode ser uma referência:

A) à pólis ideal que se formava longe das demais cidade-estados e que tinha como característica uma divisão de classes baseada no desenvolvimento da alma dos cidadãos;

B) à ataraxia, estado de tranquilidade da alma, que para Epicuro estava ligada ao abandono total dos prazeres humanos;

C) ao “Jardim de Epicuro”, onde estava localizada a sua escola e onde o filósofo reunia seus amigos e discípulos;

D) crítica à busca dos prazeres, pois estes servem somente para perturbar a alma humana e conduzir o homem aos vícios por excessos;

Gabarito explicado

Epicuro, em um movimento contrário a Platão e Aristóteles que desenvolveram seu pensamento no interior da pólis e não desassociaram a felicidade humana da vida política, procura um ambiente afastado do centro de Atenas para desenvolver sua filosofia. Escolheu um prédio com um jardim no subúrbio de Atenas, longe do tumulto da cidade, para constituir sua escola de pensamento. O “Jardim de Epicuro”, como ficou conhecida sua escola posteriormente, era um ambiente de refúgio, onde Epicuro reunia somente os seus amigos/discípulos.

Estude mais sobre o Epicurismo e continue praticando com exercício de filosofia para o 1º ano do ensino médio (com gabarito).

Referências Bibliográficas

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. São Paulo : Martins Fontes, 2007.

COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2016.

EPICURO. Máximas Principais. São Paulo: Loyola, 2010.

EPICURO. Carta sobre a Felicidade: (a Meneceu). Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore. São Paulo: Unesp, 2002.

EPICURO. “Antologia de Texto de Epicuro”. In: Epicuro Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

HADOT, P. O que é a Filosofia Antiga? Tradução de Dion Davi Macedo. Edções Loyola, 2017.

MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

MARTINS, J. S.; COSTA, J. C. S. R.. “A Natureza dos Prazeres Segundo Epicuro”. APRENDER – Cad. de Filosofia e Psic. da Educação. Vitória da Conquista, a. X, n. 16, v. 2, jul./dez, 2016, pp. 59-78.

REALE, G; ANTISERI, D. História da Filosofia: antiguidade e Idade Média, v. 1. Coleção Filosofia. São Paulo: Paulus, 1990.

THEOBALDO, M. C. “Virtude e Prazer: a maneira epicurista de Montaigne”. Revista Ideação, n. 43, Jan./Jun., 2021, pp. 310-325.

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Bacharela e Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (2014), com Mestrado em História da Filosofia pela mesma universidade (2017). Atua como professora na rede privada e estadual de ensino, ministrando aulas ligadas às áreas de Filosofia e de Sociologia.