🔥 Plano mensal agora só R$ 29,90/mês! Termina em Assine agora

Cabanagem

Ligia Lemos de Castro
Revisão por Ligia Lemos de Castro
Professora de História

A Cabanagem ou a Guerra dos Cabanos foi uma revolta popular extremamente violenta, ocorrida de 1835 a 1840, na província do Grão-Pará.

A rebelião envolveu diferentes setores da sociedade. De um lado, a elite formada por fazendeiros e comerciantes tinha por objetivo garantir o poder político da província e assegurar seus interesses, que acreditavam ameaçados desde a Independência.

Por outro lado, a população pobre se rebelara contra a violência e as condições de trabalho, que muitas vezes os submetiam a condições semelhantes à escravidão.

Contexto histórico e político

Nos anos de 1835-1840, o Império do Brasil vivia o período regencial.

Dom Pedro I havia abdicado em favor do seu filho que tinha apenas cinco anos. Por isso, foi instituída a Regência, período entre 1831 e 1840, no qual o Brasil foi governado por lideranças políticas da capital do império.

Contudo, várias províncias não estavam satisfeitas com o poder centralizado e desejavam ter mais autonomia. Algumas, inclusive, queriam separar-se do Império do Brasil.

Insurreições como a Farroupilha, Balaiada e Sabinada, explodiram em todo território brasileiro.

Província do Grão-Pará

Grão Pará
Mapa mostrando a província do Grão-Pará, em vermelho

A província do Grão-Pará compreende os atuais estados de Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia.

Ao longo do período colonial, o Grão-Pará tinha mais contato com Lisboa do que com o Rio de Janeiro. Por isso, foi uma das últimas a aceitar a independência, passando a fazer parte do Império brasileiro em 1823.

A Revolta da Cabanagem teve um alcance considerável e se espalhou pelos rios Amazonas, Madeira, Tocantins e seus afluentes.

O nome do movimento faz alusão à moradia típica da população pobre da província, formada por ribeirinhos de origem indígena e negra, habitantes de cabanas construídas sobre palafitas às margens dos rios. “Cabanos” era o nome dado aos moradores dessas habitações e, por extensão, aos participantes da revolta.

Ainda com dúvidas? Pergunta ao Ajudante IA do Toda Matéria

Principais causas da revolta da Cabanagem

Dentre as principais causas da revolta podemos apontar:

  • As disputas políticas e territoriais entre as elites do Grão-Pará;
  • A ambição das elites locais em tomar as decisões político-administrativas da província;
  • O descontentamento com as decisões do governo regencial;
  • Os cabanos, por sua parte, queriam melhores condições de vida e trabalho.

Vale citar que, sobre isso, as referidas elites tomaram proveito da insatisfação popular para sublevar as populações contra o governo regencial.

O desenvolvimento da revolta (principais eventos e confrontos)

Desde a independência do Brasil, em 1822, as elites do Grão-Pará se ressentiam com a presença dos comerciantes portugueses na província.

No governo de D. Pedro I, os proprietários e comerciantes estavam insatisfeitos com o tratamento recebido por parte do governo central.

Além disso, sofriam com a repressão do Governador Bernardo Lobo de Sousa desde 1833, que ordenou deportações e prisões arbitrárias para quem se opusesse a ele.

Assim, em agosto de 1835, os cabanos se amotinam, sob a liderança dos fazendeiros Félix Clemente Malcher e Francisco Vinagre, culminando na execução do Governador Bernardo Lobo de Sousa.

Em seguida, indicam Malcher para presidente da província. Na ocasião, os revoltosos se apoderaram dos armamentos legalistas e se fortaleceram ainda mais.

Contudo, Malcher foi considerado um traidor pelo movimento, por atender as exigências do governo imperial e tentar reprimir os revoltosos, mandando prender Eduardo Angelim, um dos líderes do movimento. Após um sangrento conflito, Malcher é morto pelos “cabanos” e substituído por Francisco Pedro Vinagre.

Em julho de 1835, o então presidente da província recém-conquistada, aceita sua rendição mediante a anistia geral dos revolucionários e por melhores condições de vida para a população carente. Contudo, é traído e preso.

Cabangem
A luta na praça da Sé foi uma das mais sangrentas da Cabanagem

Inconformado, seu irmão, Antônio Vinagre, reorganiza as forças militares da cabanagem e ataca o Palácio de Belém, conquistando-o novamente em 14 de agosto de 1835.

Na ocasião, Eduardo Angelim é feito presidente de um governo republicano independente. No entanto, o desacordo entre os líderes do movimento enfraquece a revolta e facilitaram o contra-ataque legalista.

Assim, em 1836, enviado pelo regente Feijó, o Brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa, comandante mor das forças regenciais do Grão-Pará, autoriza a guerra total aos cabanos. Ele ordena o bombardeio à Belém e aos assentamentos da cabanagem.

Desse modo, com a ajuda de mercenários estrangeiros e soldados imperiais, a revolta é sufocada. Eduardo Angelim é capturado e enviado ao Rio de Janeiro.

Por fim, em 1840, a maioria dos revoltosos já havia se dispersado ou tinham sido presos e mortos, devido às perseguições, que seguiram mesmo após 1836.

Com a ascensão de Dom Pedro II ao trono, em 1840, os prisioneiros foram anistiados.

Quem foram os líderes da Cabanagem

Entre os principais líderes destacam-se:

  • Félix Malcher: Inicialmente um dos líderes da revolta, chegou a ser presidente da Província do Grão-Pará após a tomada de Belém. Sua gestão, contudo, foi breve e marcada por divergências internas, levando à sua deposição e posterior execução pelos próprios cabanos.
  • Francisco Vinagre: Assumiu o controle após Malcher, mas sua liderança também foi curta devido a conflitos internos e descontentamentos.
  • Eduardo Angelim: Talvez o mais conhecido dos líderes cabanos, destacou-se por sua persistência e resistência, mesmo frente às adversidades e à intensa repressão imperial.

Consequências da Cabanagem

Embora a perseguição tenha sido violenta, alguns revolucionários conseguiram escapar e fugiram para a floresta, o que permitiu a sobrevivência dos ideais da cabanagem mesmo após sua derrota.

A Cabanagem deixou uma carnificina de mais de trinta mil mortos, cerca 30% a 40% da população da província à época. Dizimou populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas, bem como membros da elite local.

Também desorganizou o tráfico de escravos e os quilombos se multiplicaram na região.

Curiosidades

  • As mulheres foram fundamentais na Cabanagem, pois eram elas que levavam informações e comida para o bando revoltado.
  • A Cabanagem foi uma das poucas revoltas do período regencial que congregou várias classes sociais.
  • Em Belém existe o Memorial da Cabanagem que abriga os restos mortais dos líderes da revolta.
  • Em 2016, a Cabanagem inspirou um musical, escrito por Valdecir Manuel Affonso Palhares e com música de Luiz Pardal e Jacinto Kahwage.

Para praticar: Exercício sobre a Cabanagem (com respostas explicadas)

Leia ainda:

Ligia Lemos de Castro
Revisão por Ligia Lemos de Castro
Professora de História formada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Docência na Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Leciona História para turmas do Ensino Fundamental II desde 2017.
Juliana Bezerra
Edição por Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.