Atividades sobre o abolicionismo no Brasil
O estudo do abolicionismo no Brasil é fundamental para compreender não apenas o fim formal da escravidão em 1888, mas também os desafios e contradições que marcaram esse processo. A luta pela liberdade envolveu diferentes grupos sociais e resultou em transformações profundas na sociedade brasileira. No entanto, a assinatura da Lei Áurea não significou o fim imediato das desigualdades nem a integração plena da população negra, que continuou enfrentando mecanismos de exclusão e marginalização.
As atividades a seguir têm como objetivo estimular a reflexão crítica sobre esse período, analisando documentos históricos, interpretações de historiadores e símbolos da luta abolicionista. A proposta é que o estudante perceba a abolição como parte de um processo histórico inacabado, cujos efeitos ainda reverberam nas estruturas sociais do país.
Questão 1
“Para Marcelo Balaban, professor do departamento de História da UNB, o 13 de maio é importante por celebrar um princípio, e reafirmar que a escravidão deve ser repudiada e combatida. No entanto, não se deve correr o risco de celebrar a data como um instante que marcou o fim da escravidão real. Em sua visão, 1888 instaurou o fim legal da instituição servil, uma vez que o trabalho escravo ainda é recorrente no país. A abolição definiu, então, o início de um novo e longo processo histórico de precarização das condições de vida e de ascensão social dos ex-cativos e seus descendentes.”
(MAIA, Beatriz. Cinco visões sobre os 130 anos da abolição. Jornal da Unicamp – JU, Campinas, 14 maio 2018. Disponível em: https://unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2018/05/14/cinco-visoes-sobre-os-130-anos-da-abolicao/. Acesso em: 22 ago. 2025.)
O argumento central defendido pelo professor Marcelo Balaban sobre a Abolição da Escravatura no Brasil é que:
a) A Lei Áurea representa o fim jurídico da escravidão, mas não eliminou completamente suas práticas e consequências sociais.
b) O 13 de maio de 1888 deve ser comemorado como marco definitivo do fim da escravidão no território brasileiro.
c) A abolição foi um processo que beneficiou imediatamente os ex-escravos com melhores condições de vida.
d) O trabalho escravo no Brasil foi completamente erradicado após a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.
e) A data de 1888 marca o início da integração social plena dos ex-cativos na sociedade brasileira.
a) Correta. O texto destaca que a Lei Áurea teve efeito apenas jurídico, mas não erradicou práticas escravistas nem superou as desigualdades sociais herdadas da escravidão.
b) Incorreta. O autor critica a ideia de tratar o 13 de maio como um fim absoluto da escravidão, apontando que a opressão continuou sob outras formas.
c) Incorreta. O texto afirma que a abolição iniciou um novo processo de precarização das condições de vida, e não uma melhora imediata.
d) Incorreta. O autor ressalta que formas de trabalho escravo persistem até hoje, negando a ideia de erradicação completa.
e) Incorreta. O texto nega que tenha havido integração social plena, enfatizando a continuidade das dificuldades e desigualdades.
Questão 2
"A respeito da existência e das leis de extinção do tráfico, que também constituiu uma das questões da pesquisa, pudemos também formular algumas hipóteses explicativas. Constatamos que não existia, até 1831, um consenso no interior da elite política nem entre ela e o governo brasileiro a respeito da urgência de acabar com aquele comércio, em que pese a quantidade de projetos debatidos. Nem o resultado final nem a forma de alcançá-lo eram consensuais mesmo tendo em vista a pressão externa..."
(RODRIGUES, Jayme. O infame comércio: propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850). 1994. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas, Campinas, SP).
Segundo o texto, o principal fator que contribuiu para o fracasso da lei de 1831 sobre a extinção do tráfico negreiro foi:
a) A divergência de opiniões no interior da elite política brasileira quanto à urgência e aos meios de implementar a extinção do comércio negreiro.
b) A forte resistência dos proprietários de escravos que se organizaram contra qualquer medida abolicionista.
c) A pressão internacional que buscava forçar o cumprimento da legislação antiescravista.
d) A inexistência de projetos parlamentares que propusessem alternativas viáveis ao trabalho escravo.
e) A oposição sistemática de jesuítas que se opunham à escravidão e indígenas e de africanos.
a) Correta. O trecho afirma que não havia consenso entre a elite e o governo quanto à urgência e aos meios de acabar com o tráfico, o que explica o fracasso da lei de 1831.
b) Incorreta. Embora houvesse resistência de setores escravistas, o texto foca na ausência de consenso interno e não em resistência organizada.
c) Incorreta. A pressão internacional é citada, mas o problema principal apontado foi a falta de acordo interno, e não a pressão externa.
d) Incorreta. O texto menciona que vários projetos foram debatidos, logo havia propostas parlamentares.
e) Incorreta. Não há qualquer referência a oposição de jesuítas como fator relevante.
Questão 3
"As camélias cultivadas em quilombo da Zona Sul tornaram-se símbolo do movimento negro em todo o Brasil. (...) Com o consentimento do proprietário, o local abrigava o Quilombo das Camélias, um dos mais atuantes na abolição da escravatura. O antigo grupo foi caracterizado pela luta política e pelo apoio de intelectuais, e as camélias que lá eram plantadas tornaram-se símbolo do movimento abolicionista (...). A escolha do plantio da flor tinha um profundo significado: na época, se dizia que o escravo só servia para cuidar de coisas brutas, que não tinha sensibilidade. Os abolicionistas queriam demonstrar exatamente o oposto. Escolheram plantar camélias no quilombo justamente por ser uma flor superdelicada..."
(Adaptado de: FOTI, Erick. Flores do Leblon e da abolição. Jornal da PUC, Rio de Janeiro, 17 nov. 2017. Disponível em: https://jornaldapuc.vrc.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=5414&sid=28. Acesso em: 22 ago. 2025.)
A simbologia da camélia no movimento abolicionista brasileiro representava:
a) A resistência armada dos quilombolas contra os proprietários de escravos e suas milícias.
b) A aliança política entre estrangeiros e lideranças negras na luta pela abolição.
c) A capacidade produtiva dos escravos em atividades agrícolas e ecológicas.
d) A contestação aos estereótipos racistas que negavam sensibilidade e refinamento aos escravizados.
e) A influência europeia na cultura brasileira através da introdução de espécies vegetais ornamentais.
a) Incorreta. O texto não relaciona as camélias à luta armada, mas a um simbolismo contra estereótipos.
b) Incorreta. Não há menção a alianças internacionais, pois o foco do texto é interno ao movimento abolicionista.
c) Incorreta. O significado da camélia não se relaciona à capacidade produtiva agrícola, mas à sensibilidade.
d) Correta. A camélia foi escolhida para refutar preconceitos que negavam sensibilidade aos escravizados, valorizando sua humanidade e refinamento.
e) Incorreta. O simbolismo político da flor não é explicado como influência europeia, mas como ato contestatório ao racismo.
Questão 4

A charge homenageia o jangadeiro Francisco José do Nascimento, conhecido como Dragão do Mar, que não aceitou transportar escravizados que seriam vendidos para o Sudeste. Essa homenagem demonstra o reconhecimento de qual aspecto central de sua atuação política durante o movimento abolicionista?
a) Sua liderança na organização de quilombos que abrigavam escravos fugidos no Ceará.
b) Sua participação em debates parlamentares que resultaram na aprovação de leis antiescravistas.
c) Sua atuação como intelectual que publicou textos defendendo a abolição da escravatura.
d) Sua capacidade de mobilizar recursos financeiros para a compra da alforria de escravizados.
e) Sua prática de desobediência civil ao recusar-se à trabalhar com o tráfico interno de escravos.
a) Incorreta. O texto, a imagem e a história do personagem não indicam sua liderança em quilombos, mas sim na recusa ao servir ao tráfico.
b) Incorreta. Nascimento não atuou em debates parlamentares, mas em ações diretas.
c) Incorreta. Ele não é retratado como intelectual, e sim como líder prático do movimento.
d) Incorreta. Não há referência a compra de alforrias como sua principal atuação.
e) Correta. Sua recusa em transportar escravos, enfrentando o tráfico interno, é o aspecto central de sua luta, caracterizando um exemplo de desobediência civil.
Questão 5
“Graças ao abolicionismo, a mobilização popular tornou-se um elemento de transformação consciente da realidade. A revolta agora não era circunstancial, contra o aumento dos preços de alimentos ou contra alguma medida que prejudicava os interesses populares, mas sim efetiva, pois tinha por objetivo alterar a estrutura da sociedade. Os abolicionistas também inovaram na forma de organização.”
(DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010, p. 206)
A análise dos autores sobre o movimento abolicionista brasileiro destaca como principal característica diferencial:
a) A mudança das revoltas populares de ações reativas para movimentos com projeto estrutural de transformação social.
b) A capacidade de mobilizar setores da sociedade através de manifestações públicas nas principais cidades.
c) A articulação entre lideranças negras e intelectuais brancos na formulação de estratégias políticas coordenadas.
d) O desenvolvimento de métodos violentos de resistência que superaram as formas pacíficas de contestação anteriores.
e) A influência de ideologias europeias que trouxeram novos modelos organizacionais para os movimentos sociais brasileiros.
a) Correta. O texto enfatiza que o abolicionismo representou uma mudança qualitativa nas mobilizações populares, que deixaram de ser apenas respostas pontuais e passaram a ter um objetivo estrutural: transformar a sociedade ao abolir a escravidão.
b) Incorreta. Embora o movimento tenha mobilizado setores da sociedade, o foco do trecho é na transformação estrutural e não apenas na abrangência social.
c) Incorreta. O cerne do argumento não aborda a articulação entre lideranças negras e intelectuais brancos, mas a mudança de caráter das lutas.
d) Incorreta. Não há menção a métodos violentos como elemento central, mas sim à inovação organizacional e ao caráter transformador.
e) Incorreta. O texto não cita influências estrangeiras como fator central do abolicionismo, mas mudanças internas.
Questão 6
“Foi a Lei de Terras, assinada em 18 de setembro de 1850, durante a regência do Imperador Pedro II. Duas semanas antes, a Lei Eusébio de Queirós determinou o fim do tráfico de escravizados no Brasil. Essas duas leis são interrelacionadas. (...) A nova mão de obra que passaria a vingar no país, a imigrante europeia, representava um risco às elites se ela passasse a possuir terras, pois a estrutura fundiária à época era juridicamente fraca e caótica. (...) Todo novo trabalhador de lavoura, seja ele imigrante ou futuro ex-escravizado, deveria manter-se como mão de obra, jamais poderia tornar-se proprietário.”
(SENO, Pedro. Lei de Terras de 1850. Revista Hoje na História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – USP, São Paulo, 18 set. 2023. Disponível em: https://www.fflch.usp.br/114395. Acesso em: 22 ago. 2025.)
A inter-relação entre a Lei Eusébio de Queirós e a Lei de Terras de 1850 demonstra a estratégia das elites brasileiras de:
a) Promover a modernização da agricultura através da atração de imigrantes europeus qualificados tecnicamente.
b) Garantir o controle sobre a estrutura fundiária durante a transição do trabalho escravo para o trabalho livre.
c) Estabelecer um sistema jurídico mais rigoroso para regulamentar as relações de trabalho no campo.
d) Criar condições favoráveis para a integração social dos ex-escravizados como pequenos proprietários rurais.
e) Fortalecer a economia nacional através da diversificação da mão de obra e da redistribuição de terras.
a) Incorreta. Embora mencione imigração europeia, o objetivo principal não era a modernização agrícola, mas manter o controle sobre a terra.
b) Correta. O trecho destaca que a Lei de Terras impediu o acesso à terra por imigrantes e futuros ex-escravizados, garantindo a continuidade do poder das elites sobre a estrutura fundiária.
c) Incorreta. Não se trata de regulamentar relações de trabalho, mas de restringir o acesso à propriedade para manter a dependência da mão de obra.
d) Incorreta. O texto aponta exatamente o contrário: ex-escravizados não deveriam se tornar proprietários.
e) Incorreta. Não houve redistribuição de terras, mas manutenção da concentração fundiária.
Questão 7
Em entrevista ao jornal Brasil de Fato, o professor universitário Helio Santos, proferiu o seguinte comentário:
"O 13 de maio foi um grande golpe. Um ano e meio depois, o Brasil edita um decreto a favor da imigração europeia. Um ano e meio depois, foi editada a lei da vadiagem. Vadio era quem não tinha emprego e desempregado crônico é o negro. O 13 de maio foi um grande golpe. Um ano e meio depois, o Brasil edita um decreto a favor da imigração europeia. Um ano e meio depois, foi editada a lei da vadiagem. Vadio era quem não tinha emprego e desempregado crônico é o negro."
(LACERDA, Nara. Helio Santos: “O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história”. Brasil de Fato, São Paulo, 13 maio 2022. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2022/05/13/helio-santos-o-dia-14-de-maio-de-1888-e-o-dia-mais-longo-da-nossa-historia/. Acesso em: 22 ago. 2025.)
A sequência de medidas mencionadas na entrevista evidencia que o pós-abolição foi marcada por:
a) Políticas compensatórias que visavam reparar os danos causados pela escravidão aos afrodescendentes.
b) Estratégias governamentais de integração social que beneficiaram igualmente imigrantes e ex-escravizados.
c) Iniciativas do Estado para diversificar o mercado de trabalho e modernizar a economia brasileira.
d) Mecanismos institucionais que perpetuaram a marginalização social da população negra liberta.
e) Reformas estruturais que promoveram a democratização do acesso ao trabalho e à propriedade.
a) Incorreta. O texto não aponta nenhuma política reparatória, mas sim medidas que prejudicaram a população negra.
b) Incorreta. Pelo contrário, a opinião do entrevistado afirma que imigrantes foram favorecidos enquanto os negros foram marginalizados.
c) Incorreta. A diversificação do mercado não é destacada, e sim a exclusão da população negra.
d) Correta. As medidas citadas (incentivo à imigração e lei da vadiagem) mostram a continuidade da exclusão social através da ação do Estado, mesmo após a abolição no dia 13 de maio.
e) Incorreta. O texto mostra ausência de reformas estruturais em favor dos negros, mantendo a desigualdade.
Continue testando seus conhecimentos com exercícios sobre o Abolicionismo no Brasil (com gabarito explicado) e Atividades sobre as leis abolicionistas no Brasil (para imprimir).
PEREIRA, Lucas. Atividades sobre o abolicionismo no Brasil. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/atividades-sobre-o-abolicionismo-no-brasil/. Acesso em: